terça-feira, 5 de maio de 2020


                   


                             
                                            MEU TRIBUNAL INTERIOR







Entenda, é elementar.
Quem gosta, se importa,
faz de tudo para agradar. 
Até o que não deve, excede,
prescreve, se empenha em dar.
Porém, o amor 
não se satisfaz tão somente em amar,
exige correspondência, reciprocidade,
para não definhar.

Toda vez que amei, acreditei que me amaram
com a mesma intensidade, 
talvez até mais,
naqueles momentos em que
o encantamento encantava quem mais
amava, 
não sendo eu capaz de amar 
como hoje amo.
E como disto eu sei, agora que me vejo 
a andar só, 
ao mesmo tempo gostando
de andar só,
e quase me esquecendo do que sinto ?
Ora, sei porque foi preciso perder
para me achar.
Assim como o cego segue o seu caminho
sem precisar enxergar.
O último nó foi desatado : a carência 
nos faz sentir afetos que não existem.

Sim, vai tudo de gostar. Ainda mais quando
se crê amado.
Porém, a realidade é uma espécie de sono
que temos,
e como disse o poeta, pensar é essencialmente 
errar.
E não há erro maior do que pensar que conhece
ao outro. Nem a suposta alma gêmea. Muito menos
a suposta alma gêmea !
As verdades em que acreditamos não são
confiáveis. 
Ninguém se importa a não ser
consigo próprio. 
A maravilhosa beleza do amor
é pervertidamente fugaz.

Essa gente ordinária e suja é que está certa.
Ser inferior é libertador.
É poder abdicar de pruridos morais, inúteis 
dores de consciência, não se importar
com o que não dá retorno,
onde não há contra-partida.

Ah, quão pouco eu fui do que eu 
queria ter sido. No entanto, fui o melhor
que pude. Fiz um monte de merda, fiz coisas
vergonhosas, 
mas meu tribunal interior
nunca deixou de me acusar.
Daí, talvez, a severa pena que cumpro
sem direito à indulto.
Me importar com quem não se importa comigo.































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