sexta-feira, 24 de julho de 2020



                  o martelo de Nietzsche






Obediência e crendices, 
eis o que aprendemos desde cedo.
Educados para obedecer e crer.
A forja que, ao mesmo tempo, 
nos marca e aprisiona, como pássaros na gaiola.
Somos o que o mundo quer que sejamos.
O que permite que sejamos. 
Não mais que vassalos,
serviçais, zumbis,
massa de manobra, inocentes úteis...
Ora, nada mais cômodo que 
alguém que pense por nós.
Nada mais prático que seguir o rebanho.
Obedecer, acreditar, como nos ensinaram.
Dane-se a dor que tudo isso desencadeia.
Duvidar, contestar, para quê ? 
O que se ganha duvidando, contestando, 
além de desencanto, desavenças, desafetos ?
Razão ? Reconhecimento ? Uma pinoia !
Antes fosse. Dúvidas e contestações nunca soam bem.
Mesmo quando procedentes. 
Duvidar semeia discórdia. Contestar, antagonismo.
Mais sensato é deixar pra lá. O tempo sempre se encarrega
de mostrar a verdade.
Viver em paz não tem preço.
Conciliar vale mais que hostilizar.
Se tiver que fazer alguma coisa, faça na surdina,
por debaixo dos panos.
A verdade pouco importa. Mais importante
é manter as aparências. 
Posto que a verdade tem mil caras.
É à serventia da casa.
Felizes os que creem e erram, 
mas encontram na própria inconsciência
o consolo da felicidade fugidia. 
Algo que nunca consegui. Algo que sempre rejeitei. 
O martelo de Nietzsche só me trouxe problemas.










 









 























Fim de tarde tão magnífico que a lua
passa quase despercebida.






quarta-feira, 22 de julho de 2020




                                                                gratidão




                       


Essa solidão no fim da vida,
é justa, merecida.
Justa, porque assim não sou
um fardo para ninguém.
Merecida, ora, porque colho 
o que plantei.

Não foi o que planejei,
não era o que queria,
mas há momentos em que as coisas
fogem do controle.
Por culpa nossa ou obra
do destino,
de repente tudo desanda,
ou simplesmente caducam.
Faz parte, há que aceitar, buscar algum bálsamo 
na penosa lassidão de quem sabe
que o fim está próximo. 
Que cada dia sem dor e sofrimento
é uma vitória.
Cada dádiva, um presente. 
Minha fé é fraca, mas a gratidão é grande. 
Por ter tão pouco a pedir, e tanto a agradecer.
































terça-feira, 21 de julho de 2020


                                                 coisa de momento









Fazer poesia é como tirar
fotografia.
É coisa de momento.
O registro permanece,
mas os sentimentos não.    

Tudo muda, como uma bola 
que cai no quintal do vizinho,
que ele, ao invés devolver,
fura.









domingo, 19 de julho de 2020



                                                   VELHICE







Tudo é sempre igual 
na velhice.
A expiação da rotina.
A provação das dores.
O flagelo das lembranças.


Ser velho é trágico e ridículo.
Ouvi num filme outro dia e concordo.
Definhar nunca é bonito.








                          

                               ANDAR





Andar, andar, andar...
Nada como andar.
Para acalmar.
Não endoidar.

Amo andar.
Penso melhor quando
ando.
Mas às vezes é o contrário,
ando para não pensar.

Não tenho medo de morrer.
Tenho medo de não poder
andar.






sábado, 18 de julho de 2020




                                          a última impressão








Dizem que a última impressão 
é a que fica.
E de fato, você pode ter sido bacana, direito
a vida toda,
mas no dia em que pisar na bola,
é disso que vão lembrar.
Um passo mal dado e vai tudo por água abaixo. 
No mais das vezes,
sem o benefício da dúvida.

A memória é fraca, a felicidade fugidia.
Mágoas, ressentimentos, permanecem
além do tempo.
Maculam qualquer sentimento.
Impedem que se veja o lado bom
das coisas, do que passou.

Ora, por mais motivos que eu tenha, 
não quero ser assim.
Esquecer o que ficou para trás.
Quero ser aquele que lembra dos pais
como eles eram na plenitude,
e não como ficaram na velhice,
amargurados, desfigurados.
Quero ser aquele que preserva
os incontáveis momentos felizes do passado,
e não como os que se obrigam
a repudiar, consumidos pelo
remorso e rancor.
Quero ser aquele que sabe que teve uma vida
boa, que correu atrás de seus sonhos,
que amou, teve família, bons filhos,
que sabe que tudo valeu a pena,
mesmo o que não valeu a pena;
e não como aqueles que maldizem
a sorte, por ver as coisas arruinadas
quando poderiam ter evitado. 

Me recuso a deixar que a última impressão
seja a de fracasso. 
Quero minha memória bem viva para lembrar 
dessa história 
em que a beleza e a doçura 
venceram a amargura.







































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