quarta-feira, 26 de agosto de 2020

 

                                                     tempo-ladrão



                      


"Em contra-partida, o que tens à oferecer ?",

pergunta o demo, 

à imensa fila de solicitantes que, escrúpulos às favas, 

solicita seus favores.

Ah, as contra-partidas... 

Não bastasse a universal lei do retorno,

ao famigerado toma lá-dá-cá que deturpa as relações humanas,

o ávido tempo-ladrão tudo suprime,

nos embala e torna obsoletos,   

até o sono derradeiro. 

No turbilhão da vida, o tardio arrependimento 

é o acalanto da alma perdida.



terça-feira, 25 de agosto de 2020







                                                       buraco sem fundo





A vida é um buraco sem fundo, onde a gente se afunda, a realidade liquefeita faz tudo parecer descartável, os sentimentos desidratados, só o que importa é money, "não preciso de amor, de ninguém para gostar ou que goste de mim, só de dinheiro, com dinheiro eu compro tudo", palavras de quem sabe o que fala, que sofreu, ralou, acreditou e quebrou a cara, e quem não quebra ? Quem não se decepciona, e dá o troco na mesma moeda ? Tateamos sem ver, entre ideias e desejos as almas se perdem, andando por tantas lonjuras, tão perto do sol até as asas derreterem, cegos pela luz desperdiçando as árduas conquistas, o tempo agonizante se esfarela sob estranhos zodíacos, sim, é inegável, o mundo nos tornou egoístas e maus, quem diz não precisar do amor é quem mais precisa, mas, bah, o acaso que rege a existência ignora a nossa dor.  



domingo, 23 de agosto de 2020

             

                           os brutos também amam




Jurei não mais me importar com nada, 

nem com ninguém que não fosse merecedor,

que não valesse a pena.

Mas o que parecia tão fácil, logo percebi 

ser impraticável. 

Pura e simplesmente porque sou humano. 

E quem é humano, se importa.

Com quem se ama, com o próximo.

Cada um a sua maneira.

Sentimentos, eis o que nos distingue,

o que nos diferencia. Para o bem e para o mal.

Pois se importar é uma forma de amar.

E "os brutos também amam", como até 

os velhos filmes de cowboys sabiam.






 




       morrer em vida




As coisas quebram,

deterioram,

envelhecem.

A lei da vida é implacável, 

irreversível.

Só o que podemos fazer

é retardar.

Sem confundir com protelar.

Porque protelar o que não satisfaz,

perder tempo com o que nos faz infeliz,

é morrer um pouco a cada dia.

Morrer por antecipação, em vida, 

ninguém merece.


 





 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020


                              nosso lar é o inferno


 


Mentes empedernidas, mentes obtusas, 

mentes malignas.

De que barro é feito essa gente

que tanto mente, finge ser o que não é ?


A minha ideia do mundo há muito 

caiu por terra.

Caíram as crenças, as esperanças, 

restaram os equívocos.

A desconfiança de tudo e de todos.

Súbito, tudo faz sentido.

Até o que não faz sentido.

Há, simplesmente, que aceitar. 


Dispersos, à desídia nos entregamos

em meio a vaporosa ideia de nós mesmo.

Assim passa a vida, o ouro do sol  

exige que sejamos vis.

Tudo vale a pena pelo preço certo. 

O que nos pesa, o vento carrega.


Ah, sentir-se nascido para cada momento.

Ter ideias e sentimentos sem os ter.

Mentir para si mesmo sem culpa, porque a culpa nunca 

é justa.

Filhos de um mundo enfermo, em que tudo 

se quebra e emudece,

nosso lar é o inferno. 








quinta-feira, 20 de agosto de 2020


                                         sabedoria



Sabedoria mesmo é valorizar a vida normal.

Sem glamour e sem dor.

Insossa, banal,

mas antes assim do que mutilada, artificial.


Dinheiro é bom mas não compra tudo.

Fama é bom mas não dura para sempre.

Sabedoria é conseguir conciliar as coisas 

sem perder o prumo, sem se degradar.

Fazer da vida normal, o melhor possível.

"Ter sem deixar que o ter te tenha." (MILLÔR FERNANDES)









  



                                         ferida sem cura




No rebojo de sentimentos que envolvem 

uma separação,

tudo vem à tona, de bom e de ruim.

O desgaste é tremendo, em todos os sentidos. 

E não é para menos.

A ruptura de nosso bem mais precioso

sempre deixa sequelas irreparáveis.

Ainda quando consensual, marcas sempre ficam.

No mínimo, questionamentos.

O que se fez de errado, o que poderia ter sido feito.

O tardio arrependimento por não ter feito mais.

Não ter valorizado mais, ou não ter desistido antes.


Ah, o custo da separação. O amor vilipendiado, sonhos, 

as expectativas fraudadas transmutadas em ressentimento 

e ódio. 

Sequer um desfecho digno que console o coração,  

eis a ferida sem cura da separação.





  



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