domingo, 15 de novembro de 2020



                                             c´est la vie






Ah, quantas tralhas carregamos ao longo da vida.

Verdadeiras cangalhas que nos tolhem, oprimem, mutilam.

Quase sempre insuficientes, incapazes de atender as severas

expectativas alheias.


Às duras penas, 

venho aprendendo a lidar com o jugo dos sentimentos, 

das cobranças e responsabilidades.

Aprendendo a ficar quieto no meu canto,

sem esperar nada de ninguém.

Ainda que o distanciamento magoe e machuque.

Ainda mais para quem se sente merecedor de um mínimo

de reconhecimento e reciprocidade.


Ledo engano. Ninguém se acha devedor.

Todos se acham merecedores.

Tudo tem seu preço.

Às vezes você não dá nada 

e recebe tudo.

Em outras, é o contrário,

e até um pé na bunda acaba recebendo.


Ces´t la vie,  como diriam os chineses.


 

sábado, 14 de novembro de 2020


                                         o mar de Ulisses






Quem me dirá o que é certo ou errado ?

O que devo ou não devo fazer,

argumentos que me justifiquem perante os outros ?

A um só tempo, compreensivo e indulgente.

Sensatamente, em meio à selva de interesses 

e mistificações ?

Ora, ao amor defenestrado impõem-se às misérias 

de cada dia.

A sabedoria que há na falta de respostas 

me redime.

No mar de Ulisses me perdi.

Esse incessante mar que no diário exercício da vida

sabota os esforços, destrói os sonhos,

sulca a areia infinita. 

Alheio a nossa vontade.







                        tempestades





Depois que as tempestades passam,

a vida sempre se refaz.

Às vezes para melhor.

Às vezes precisa alguém te dar a mão,

te levantar do chão,

te chamar à razão.


Sozinho é sempre mais difícil,

deixar-se assim,

derivar a vida.

Esquecer as mágoas vãs.

As expectativas descabidas.

Deixar para trás o que não pode ser mudado.

Laços desfeitos,

tudo que amamos.

Amor que ao deixar de existir,

vê-se sem méritos, atrativos.

Como a flor e o fruto abruptamente

arrancados pela 

tempestade.

 

  




















 

sexta-feira, 13 de novembro de 2020


                                    a nova realidade



 


Viver não é mais preciso.

Séculos de História reduzido à fábulas.

Basta simular, projetar, fantasiar sob estímulos alheios.

Amamos, copulamos, matamos e morremos

sem sair de casa, 

no âmbito de uma telinha mágica. 

O próximo passo - a inteligência artificial -

recriará o Genesis. 

O homem como deveria ter sido.

Sem a tutela de Deus.

Cuja invenção nunca deu certo.

Nem do homem, nem de Deus.













     









quinta-feira, 12 de novembro de 2020




                                        polifonia





Tanta exuberância, tanta abundância, tanta

diversidade, 

e o planeta não existiria sem o labor

anônimo da minúscula abelha. 


Tanta prosápia, tanta bazófia, tanta jactância,

e o homem não é capaz de conviver

em paz e harmonia.


Tanto querer, tanto empenho, tanta devoção,

e nem assim o amor 

resiste as armadilhas do tempo.


 

terça-feira, 10 de novembro de 2020



                             vida bizarra





Sou apenas um homem só 

"que sonha que alguém o sonha".

Sei que para ti sou apenas um eco,

alguém que deixou de ter qualquer mérito ou

atenuante.

No entanto, folgo em constatar, 

nem todos pensam assim.

Ah, vida bizarra, em que são os estranhos 

que te dão mais valor.

Se essa é a lei da vida, não sei.

Só sei que aos olhos de quem mais amei,

um inimigo me tornei.  







 




 



 




 


 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020



"Por que açoitas essa pobre rameira ?

Vira contra ti próprio essa chibata.

Estás ardendo de desejo de com ela

realizar o ato de que a castigas."


(Shakespeare/ rei Lear/ato IV/cena V) 





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