Achava que não poderia viver sem o amor
da mulher amada,
do filho querido.
Até me mancar que eles vivem muito bem
sem mim.
Desenca(r)nei.
ingênuo enleio
As coisas que passam, não passam,
quando não se bastam.
O pesar do que o coração quis e não teve.
Ingênuo enleio que freme e agoniza.
Tu, que já não estás comigo e sequer conheci o íntimo.
No pensamento, ainda te vejo, nua e bela, nos meus braços.
Dói-me saber que nunca mais a terei.
Lembranças que passam mas não passam,
vergastam o meu viver.
despojos
Nada me prende a nada.
No entanto, a tudo me obrigo.
Em solene reverência às graças recebidas.
Ao pão nosso de cada dia.
Ao teto que nunca me faltou.
Aos afetos, e até desafetos, que tanto me ensinaram.
Sou grato mesmo a ti, ó, musa infiel,
dona de meus pensamentos e desencantos.
Meu mundo é feito de lápides.
Tudo o que valeu a pena ficou para trás.
Já não pertenço a este plano sombrio.
O tempo que engendra a vida
é o mesmo que engendra a morte.
Cumpre, apenas, aceitar.
Entretido em recolher os despojos.
Em meio aos quais ainda vicejam
desejos que desfruto,
à míngua do amor que me foi denegado.
a miséria de viver
Alegrias e tristezas. Verdades e mentiras.
Certezas e dúvidas.
Temos ideias e razões, mas nunca
chegamos ao âmago das coisas.
Que tudo na vida
tem um lado bom e outro mau.
E as leis universais são fruto do mais trágico.
Nunca conhecemos a vida que a vida oculta.
Vivemos na deslembrança do que perdemos,
do pesar de não ser o que poderia ter sido.
O espírito acorrentado a um infinito remorso, adoece.
A vida adoece.
A miséria de viver é a única certeza que permanece.
as coisas não ditas As coisas não ditas são as que permanecem. Ficam, assim, hibernando, maturando, soterradas, at...