Passei a vida tentando corrigir os erros
que cometi
na ânsia de acertar (Clarice Lispector).
que belo filho da puta, você, hein ?
Há momentos em que tudo foge ao controle.
Situações em que deixamos de ser nós mesmos.
Em que descemos ao nível mais baixo,
inimaginável.
Em que os princípios, a postura, a dignidade,
o próprio raciocínio lógico,
vão tudo para o vinagre.
Em que nos vemos rastejando,
chafurdando no lodo como as mais vis
criaturas.
Transformados em algo que não somos.
Fazendo coisas que jamais pensávamos.
Monstros, vilões, traidores, adúlteros, prevaricadores,
em suma, a escória humana.
Logo você, tão cioso de seus valores, tão orgulhoso,
pretensamente íntegro,
e no entanto,
tão inseguro, frágil, fraco como todo mundo.
Como aqueles que abominava e discriminava.
No fim das contas, diferente apenas no invólucro.
Que belo filho da puta, você, hein ?
Raros aqueles que são o que são.
Para o bem ou para o mal.
Sem encenação.
Sem enganação.
Se mostrando como realmente são.
Para o que der e vier.
Para que não haja surpresas.
Afinal, o amor não requer perfeição.
Apenas transparência.
Além de tolerância,
paciência,
resiliência,
sapiência,
etc, etc...
desmesurado e falho
Eis que o caminho se estreita,
e o velho corpo que carrego se esgueira
pelas sombras do mundo
que me foi tão contraditório.
Deixando-me sozinho
no limiar da última batalha.
Diante da qual, até por impulso,
nada mais que impulso,
como sempre fiz na vida,
me sinto completo.
Pronto para o último ato.
Repleto deste amor
desmesurado e falho.
a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...