terça-feira, 14 de setembro de 2021

sexta-feira, 10 de setembro de 2021


                                         nada está bem

                             






Todos os caminhos levam à Brasília.

Nossa Versalhes sem Bastilha, 

em que os criminosos é que estão no poder.

Devidamente entrincheirados.

Devidamente escudadas por salvaguardas espúrias

engendradas em causa própria. 


Todos os caminhos levam à Brasília, mas nosso povo

é por demais pacato.

Limita-se a protestar, empunhando bandeiras e entoando

slogans que ecoam em vão.

Enquanto boa parte nem isso faz,

cooptada pelo regime que devastou e sugou

o país por quase 15 anos.

Todos impotentes diante da orgia da numerosa corte

de comensais e magistrados

que gozam de regalias e mordomias que pairam

como um escárnio à Nação estuprada.

Massa (de manobra?) que ainda assim desfila ordeira

e pacífica neste emblemático 7 de setembro de 2021,

atendendo aos apelos de um presidente refém, não só 

da conjuntura maligna que herdou, 

como - e principalmente - dos próprios erros 

E tudo bem, nada acontece.


Mas não,

nada está bem

num país 

que engole tudo passivamente.

Sem lideranças que se respeite,

sem um povo que se imponha.













terça-feira, 7 de setembro de 2021


                         carnificina





A carne de janeiro tem o sabor suicida

das coisas a serem vividas,

porém já perdidas.


A carne de fevereiro tem o sabor da volúpia

dos recomeços de quem vive

brincando com a sorte. E com a morte.


A carne de março tem o sabor do sexo

das meninas violentadas e precocemente 

emancipadas.


A carne de abril tem o sabor da mesmice 

de dias devorados

por máquinas autônomas e customizadas.


A carne de maio tem o sabor das tardes

luminosas que se precipitam no abismo

de cidades conflagradas e fétidas.


A carne de junho tem o sabor 

do tempo sem tempo em que nada sucede

além do engano.


A carne de julho tem o sabor de sóis trenspassados

de áspera luz e primaveris cinzas

das florestas dizimadas pelo homem.


A carne de agosto tem o sabor venenoso 

do ouro que impregna os rios de chumbo.


A carne de setembro tem o sabor das lembranças

que não oferecem nada, além de domingos cruéis

e grandes viagens em estradas vazias.


A carne de outubro tem o sabor ardido das decepções

e dos fracassos, de um tempo que se apagou

mas que continua doendo.


A carne de novembro tem o sabor da vida que não

muda. De um mundo que não quer mudar.

Murchando, apodrecendo como legumes

que ficam sem vender.


A carne de dezembro tem o sabor do mel

que é fel. Do afeto que trai. 

Do abraço que aprisiona.

Do amor que era pouco e se acabou.



segunda-feira, 6 de setembro de 2021




Tudo tem sido tão pouco

Depois de ter sido tanto

Que às vezes até me espanto

De não ter ficado louco.


 




Se for perdoar, que seja de coração.

Se for ponderar, que seja com a razão.

Se for para voltar, que seja para ficar.


  




Pena, nossas verdades 

forjaram diásporas irreversíveis.



 

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