quarta-feira, 15 de setembro de 2021



                       a lógica da sarjeta





Vivemos sob a lógica da sarjeta.

Sob a égide do mundo digital.

De valores vagando ao léu.

Algozes e vítimas de desejos deletérios.

Como ratos que devoram as própria entranhas.


A sensação simultânea de céu e abismo

nos consome.

Máscaras anêmicas escondem os medos

que entretecem a insípida vida.

Miragens consentidas enxugam o suor dos muros.

A retórica dos ventos nos leva além da dor.

Além do entendimento que se quis reter.

Enquanto os dias algemados à memória

esculpem párias e pústulas.



 




É bom ouvir o silêncio.

Nascido da inutilidade de expressar-se.

É por onde começa o entendimento.





 




O amanhecer

é como um renascer

ao revés.


 

terça-feira, 14 de setembro de 2021

sexta-feira, 10 de setembro de 2021


                                         nada está bem

                             






Todos os caminhos levam à Brasília.

Nossa Versalhes sem Bastilha, 

em que os criminosos é que estão no poder.

Devidamente entrincheirados.

Devidamente escudadas por salvaguardas espúrias

engendradas em causa própria. 


Todos os caminhos levam à Brasília, mas nosso povo

é por demais pacato.

Limita-se a protestar, empunhando bandeiras e entoando

slogans que ecoam em vão.

Enquanto boa parte nem isso faz,

cooptada pelo regime que devastou e sugou

o país por quase 15 anos.

Todos impotentes diante da orgia da numerosa corte

de comensais e magistrados

que gozam de regalias e mordomias que pairam

como um escárnio à Nação estuprada.

Massa (de manobra?) que ainda assim desfila ordeira

e pacífica neste emblemático 7 de setembro de 2021,

atendendo aos apelos de um presidente refém, não só 

da conjuntura maligna que herdou, 

como - e principalmente - dos próprios erros 

E tudo bem, nada acontece.


Mas não,

nada está bem

num país 

que engole tudo passivamente.

Sem lideranças que se respeite,

sem um povo que se imponha.













terça-feira, 7 de setembro de 2021


                         carnificina





A carne de janeiro tem o sabor suicida

das coisas a serem vividas,

porém já perdidas.


A carne de fevereiro tem o sabor da volúpia

dos recomeços de quem vive

brincando com a sorte. E com a morte.


A carne de março tem o sabor do sexo

das meninas violentadas e precocemente 

emancipadas.


A carne de abril tem o sabor da mesmice 

de dias devorados

por máquinas autônomas e customizadas.


A carne de maio tem o sabor das tardes

luminosas que se precipitam no abismo

de cidades conflagradas e fétidas.


A carne de junho tem o sabor 

do tempo sem tempo em que nada sucede

além do engano.


A carne de julho tem o sabor de sóis trenspassados

de áspera luz e primaveris cinzas

das florestas dizimadas pelo homem.


A carne de agosto tem o sabor venenoso 

do ouro que impregna os rios de chumbo.


A carne de setembro tem o sabor das lembranças

que não oferecem nada, além de domingos cruéis

e grandes viagens em estradas vazias.


A carne de outubro tem o sabor ardido das decepções

e dos fracassos, de um tempo que se apagou

mas que continua doendo.


A carne de novembro tem o sabor da vida que não

muda. De um mundo que não quer mudar.

Murchando, apodrecendo como legumes

que ficam sem vender.


A carne de dezembro tem o sabor do mel

que é fel. Do afeto que trai. 

Do abraço que aprisiona.

Do amor que era pouco e se acabou.



segunda-feira, 6 de setembro de 2021




Tudo tem sido tão pouco

Depois de ter sido tanto

Que às vezes até me espanto

De não ter ficado louco.


 

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