segunda-feira, 11 de outubro de 2021



                       ritos




 


Viver na penumbra. 

Sem rumo nem aconchego.

Relegado ao limbo, sem nada poder fazer

além de seguir os ritos.

De preferência, sem encher

o saco de ninguém.

Há infinitas maneiras de morrer.




                                quem viver, verá




 

                      



Ser ou não ser não é tão simples.

Porque há o ser e o não-ser no sentido 

do existir não existindo.

Existimos, porém, não existimos, à luz do atomismo.

O quantum da consciência-inteligência carrega 

a areia do tempo. 

O halo vital fecunda o espírito.

Átomos espirituais remontam à imortalidade da alma.

Nos fundamentos da Criação vibra o pensamento quântico

do Criador, que recém dá as caras. 

Vem chumbo grosso por aí.

A matéria, pulsação da humanidade, se esgota no esmaecer 

da força vital patafísica. 

Os espíritos estão entre nós, só não podemos vê-los.

Sem mistério : somos seres quadrimensionais, 

e o hiperespaço euclidiano é o portal

do insondável Além.

Quem viver, verá.

Quem morrer, também.


  

domingo, 10 de outubro de 2021


                                                    manhãs





Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

Do ventre que gesta as coisas mais belas e mais amargas, 

os liames primordiais transcendem os mitos e farsas.

Mitos e farsas que incendeiam os paradigmas.

A vida é o que é, inútil tentar modificá-la. 

Maternidades e cemitérios, igrejas e bordéis : tudo

remonta a mesmo mescla de carnes corrompidas.


Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

O choque do tempo contra o absurdo e o imutável

acende as luminárias das alegorias insofridas.

Monturos absconsos de ritos e vontades absorvem 

a áspera realidade.

Restos de antigas dignidades subvertidas aos cerimoniais

hereges.

O homem morre sem saber quem é.

Só se encontra na angústia dos proscritos.


Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

A vida autônoma assiste a barbárie eternizar-se.

Bárbaros matam a fonte em que todos bebem.

Não importa. O ritual dos sacrifícios faz parte da natureza.

Uns devem morrer pelo bem de outros.

O sangue derramado é a aliança com divindades 

de reputação duvidosa. 

Não importa. Nada importa. Nada restitui a inocência perdida.


Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.

Manhãs de reinvenções dos elementos.

Manhãs de súplicas. 

Manhãs estéreis, perfuradas de matizes difusas, 

que por decreto divino velam a própria eternidade. 

Os poderes do mundo rejeitam a pomba branca da paz. 

Libertamos Barrabás e crucificamos Cristo.

Não espere nada menos.











 




 

sábado, 9 de outubro de 2021





Um dia ela acorda

de seu sono crepuscular,

já não tão jovem,

já nem tão bela,

e se dá conta que enquanto dormia,

a vida 

passou pela janela.




 




Posso ser vários em um só.

Ao gosto do freguês.

Minha melhor versão guardo para mim mesmo.



 






Lá vai um sujeito feliz.

Fez tudo diferente do que eu fiz.


 





Tudo tem sido tão pouco

depois de ter sido tanto

que está até sobrando

um dinheirinho. 


 

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