ritos
Viver na penumbra.
Sem rumo nem aconchego.
Relegado ao limbo, sem nada poder fazer
além de seguir os ritos.
De preferência, sem encher
o saco de ninguém.
Há infinitas maneiras de morrer.
quem viver, verá
Ser ou não ser não é tão simples.
Porque há o ser e o não-ser no sentido
do existir não existindo.
Existimos, porém, não existimos, à luz do atomismo.
O quantum da consciência-inteligência carrega
a areia do tempo.
O halo vital fecunda o espírito.
Átomos espirituais remontam à imortalidade da alma.
Nos fundamentos da Criação vibra o pensamento quântico
do Criador, que recém dá as caras.
Vem chumbo grosso por aí.
A matéria, pulsação da humanidade, se esgota no esmaecer
da força vital patafísica.
Os espíritos estão entre nós, só não podemos vê-los.
Sem mistério : somos seres quadrimensionais,
e o hiperespaço euclidiano é o portal
do insondável Além.
Quem viver, verá.
Quem morrer, também.
manhãs
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
Do ventre que gesta as coisas mais belas e mais amargas,
os liames primordiais transcendem os mitos e farsas.
Mitos e farsas que incendeiam os paradigmas.
A vida é o que é, inútil tentar modificá-la.
Maternidades e cemitérios, igrejas e bordéis : tudo
remonta a mesmo mescla de carnes corrompidas.
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
O choque do tempo contra o absurdo e o imutável
acende as luminárias das alegorias insofridas.
Monturos absconsos de ritos e vontades absorvem
a áspera realidade.
Restos de antigas dignidades subvertidas aos cerimoniais
hereges.
O homem morre sem saber quem é.
Só se encontra na angústia dos proscritos.
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
A vida autônoma assiste a barbárie eternizar-se.
Bárbaros matam a fonte em que todos bebem.
Não importa. O ritual dos sacrifícios faz parte da natureza.
Uns devem morrer pelo bem de outros.
O sangue derramado é a aliança com divindades
de reputação duvidosa.
Não importa. Nada importa. Nada restitui a inocência perdida.
Agonizam as manhãs de sóis esquartejados.
Manhãs de reinvenções dos elementos.
Manhãs de súplicas.
Manhãs estéreis, perfuradas de matizes difusas,
que por decreto divino velam a própria eternidade.
Os poderes do mundo rejeitam a pomba branca da paz.
Libertamos Barrabás e crucificamos Cristo.
Não espere nada menos.
a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...