sexta-feira, 5 de novembro de 2021





A rotina nos devora.

Só as dores se renovam.

Mudam de patamar com o tempo.

À procura de seus próprios e tortuosos fins.




 



                             distrações





Naquele instante mágico

em que tudo acontece,

iludidos e pretenciosos,

imaginamo-nos,

regentes do que somos.

Esquecidos de que nada somos, 

nada temos,

além de breves distrações 

em meio 

aos intermináveis suplícios da vida. 

Sim, o mundo é cruel, 

especialmente às primeiras horas da manhã,

quando quase todo mundo dorme,

sem imaginar toda a merda que vai acontecer.









terça-feira, 2 de novembro de 2021



Se há um dia em que não me importo

de não ser lembrado por ninguém,

é hoje. Finados.







 

 

 

domingo, 31 de outubro de 2021




                                 o homem só




 


O homem só nada teme.

Porque tudo já lhe foi tirado.

Sua sina é a da espera ansiosa pelo que não virá.

Deu os desejos todos por um modo de sarar as feridas.

Enquanto a indesejada não chega.

Com a pouca vaidade resumida à gasta dignidade.

E o pensamento dividido entre deitar para dormir ou morrer.

O reino dos céus está logo ali.

Espera ter feito por merecer.  




quarta-feira, 27 de outubro de 2021


                              no apagar das luzes





Assim como este virtual apagar das luzes,

meus versos também encontram seu termo,

como ondas que arrebentam nos molhes.

Nada mais tenho a dizer.

Nada devo a ninguém, nem me sinto credor.

Logo a vida que se esvai não será mais

que memória.

Vago canto de pássaros que não vemos.


Vejo passar meus últimos dias como quem

não tem mais nada a perder. Muito menos ganhar.

O que fiz de bom ou de ruim me segue como um

cão fiel.

Quando a hora chegar, hei de estar arrumado

como para ir a uma festa.

O melhor de viver é esperar.






segunda-feira, 18 de outubro de 2021



Às vezes tudo é uma questão de não abandonar

o barco só porque está fazendo água.

Mesmo porque todo barco faz água.



 

domingo, 17 de outubro de 2021

                                 


                                 a procura


Para Itamir Frantz




À razão da luz que vara preguiçosamente a bruma,

alguém que se desconhece

olha pela janela em busca do que ser,

antes que os vermes o devorem. Conquanto já o devorem.


Já teve tudo o que poderia pretender,

mas, no entanto, nada o satisfaz.

E ao negar o tempo, contra o mundo vasto e desfeito,

ombreia-se à Natureza,

alheia a seus recorrentes e obsidiados dilemas. 


E assim, à vista de seu próprio elemento,

mortifica o velho corpo na ânsia de refrear o tempo.

Firmemente, vive como um zangão

que abdica da colmeia.

A procura, se não de descobrir-se,

ao menos do fim da escuridão.  






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