segunda-feira, 20 de dezembro de 2021




                     desejos e contatos

                         



 



Há um ranço de adeus em conformidade com o momento.

Na nova casa irremediavelmente devoluta,

onde a velha mobília guarda indeléveis marcas

de um passado que finalmente achou seu lugar.

Tudo se foi num piscar de olhos.

Menos mal que onde havia o corte, e a dor,

cicatrizes humanizam os corações conflagrados.

Mas já não há como partilhar 

desejos e contatos

sofreados sob o peso das novas condições.

Há um homem que anda na chuva e sente frio.

Há uma mulher que chora em seu quarto, 

sem trinco nem chave.

Há lutas, cinzas, bandagens cobrindo corpos

que só querem seguir seu caminho.

Apartados do amor que não pode mais ser repartido.

Posto que desgarrado da existência que um dia

foi deles.

Porque finalmente as coisas são como sempre deveriam

ter sido.

Lavadas do rancor e do desespero.

Tristes, quando nem triste são.




















 



                        quem me dera


 




Quem me dera não o profano,

mas o humano.

Quem me dera não o doente,

mas o sano.

Quem me dera não a serpente, 

mas o antídoto.




 

sábado, 18 de dezembro de 2021



                      cantiga antiga





Bem sei que essa minha cantiga

pode soar um pouco antiga,

nesses tempos de funks e outras estrovengas.

Pode soar piegas, por evocar coisas fora de moda.

Fora de moda, mas não antiquadas.

É uma cantiga despretensiosa, talvez não à altura

de alguém tão especial.

Muito mais que um objeto sexual, 

que usa-se e joga-se fora, como se faz hoje em dia.

Longe disso.

Não a quero por uma noite.

Por alguns momentos.

Eu a quero do jeito que se queria antigamente.

Por hoje e para sempre.






   





 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021




                                        as redes da putaria






Falta de empatia.

Supressão da consciência.

Dessensibilização.

Fenômenos da pós-modernidade.

É a humanidade ladeira abaixo.

Sob os auspícios do (sub)mundo digital.

Tudo muito simples, muito fácil.

A putaria chancelada pelas redes sociais.

Aberta à todos os públicos.

Um Pix e tudo se consegue.






 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021




                   às vezes a vida é só o que é


Gravura de Salvador Dali



Às vezes a vida é só o que é.

De indescritível horror. Na violência implícita

e explícita do dia-a-dia. No drama silencioso de cada um.


                "Quando eu era pequeno, ia pelo calçadão no sol, sem

                 chinelo, com medo de ser roubado, nas horas de folga,

                 ia com minha prancha no alfalto quente, 

                 e trabalhava pesado com 10 anos de idade, e completei

                 os estudos, e cuidei das minhas irmãs, e ainda treinava

                 musculação, fazia surfe, hoje em dia levanto

                 a traseira (sic) de uma ambulância, tomo remédios

                 fortes, e agora sou normal.


                 Eu bati a cabeça num fusca com 5 anos de idade,

                 a culpa não foi minha, 60 quilômetros 

                 por 20 de bicicleta, calcula, perdi parte da massa

                 cefálica (sic), e não tem cura."


Às vezes a vida é só o que é.


  * Depoimento de Cesario Parada Neto Parada em sua página no Facebook.


 

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