sábado, 26 de março de 2022



 


                            todo

                            santo

                     dia



 





Cada dia é uma história.

Cada dia é uma vitória.

Cada dia é uma esbórnia.

Cada dia é uma luta inglória.

Contra tudo e contra todos.

Contra tudo e contra todos.

Contra tudo e contra todos.


Em meio aos entulhos do mundo que se desfaz,

o tempo fustiga a razão de existir.

O princípio e o fim de igualam, naquilo que não 

nos pertence. No que não nos pertence mais.

Talvez nunca tenha pertencido.

Não obstante, é preciso galgar as paredes que aprisionam.

Abdicar dos nobres princípios, para poder aceitar

que tudo é cospurcado.

Mesmo o amor cedo ou tarde cede aos mundanos 

apelos.

Se liquefaz nos desvairios da mente, 

esse tigre devorador de carne e de ossos

que nos espreita 

todo 

santo 

dia.

















 










 

quarta-feira, 16 de março de 2022



                  todos passam pela cruz






A vida só faz sentido no olho do furacão.

No turbilhão das tragédias.

Quando tudo desmorona, as mãos se despetalam e

os mais belos sentimentos afloram.

De repente, no vislumbre do que foi o existir cinzento,

voltamos a crer como criança.

E ao redor deste espanto, os anseios mais antigos confabulam

um novo itinerário.


Mas a via crucis é inevitável.

Todos passam pela cruz.

Crescemos na dor que humaniza.

Na tristeza previsível ou no bojo de fatalidades

incompreensíveis.

Reconciliados nas cercanias da morte, enfim nos livramos

dos truques e disfarces.

E assim, purgados,

voltamos a ser o anjo que em outra dimensão

fomos.




  

sábado, 12 de março de 2022




                              descartável



            


Ah, se você soubesse o quão rapidamente

será esquecido, proscrito, substituído, 

não alimentaria qualquer remordimento 

pelo que fez ou deixou de fazer. 

Pois no fim das contas não faria diferença.

Se fez pouco ou muito. 

Porque nada mais importa, depois que você se for. 

Nada de planos nem datas nem suposições 

nem perrengues ou engenhosas versões escapistas. 

Pois o esquecimento começa naquele instante 

que antecede o fim, quando você se depara 

com o nada que restou do fundo de seus dias. 

Preterido por uma realidade decadente qualquer, 

debaixo de um sol que continuará a nascer e se por, 

indiferentemente ao que foi sua descartável existência. 

Porque você nunca passou disso : descartável.



















 



                           aqui jaz



Eis o homem que não existiu.

Houve um tempo em que o amaram incondicionalmente.

Ele não sabia, e se sabia, não ligava. 

Arrogante, ignorava que o mundo é cruel.

Que a vida dá e tira.

A começar pelo que há de mais sagrado : a família.

Despojado de tudo, aqui jaz o homem que foi

sem nunca ter sido.

Já está esquecido antes mesmo 

que lhe fechem o caixão.



  



                             sumidoro



Todas as coisas parecem requisitar de nós conhecimento 

e forças que não temos. 

Mas que somos obrigados a ter.

Não se evita o destino ao desejar outro destino.

Da velhice tranquila ao fim trágico, nada pode ser revogado.

Queremos mas nada se retém além de seu tempo 

pré-estabelecido.

Apenas e tão somente, o lento aprendizado.

Nas dores, sobretudo, nas dores.

Atormentados pelo puramente indizível,

as formas figuradas da felicidade atávica se esgotam

no abandono e no luto.

A morte estupidamente prematura é como uma correnteza

que nos arrasta 

para o sumidoro do mundo.










quinta-feira, 10 de março de 2022




Minha vida só mudou quando entendi 

que ninguém me deve nada.

Atenção, carinho, reciprocidade, gentileza, apoio.

Até mesmo consideração. Ninguém.

Simplesmente porque eu não controlo como me tratam.

Mas se há algo que controlo é minha presença.

E eu não permaneço onde não mereço estar.


(anônimo)


 

quarta-feira, 9 de março de 2022

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