forte e frágil
Desejaria ser pacífico, amável, sem mistificações.
Ser presciente e maduro.
Prestimoso como a terra podre e fecundada.
Desejaria ser íntegro, digno, perdurável na arte de amar
e ser amado.
Ser aquele que ainda se importa e não se corrompe.
Ser o galho partido que se refaz no caule.
Ter olhos e ouvidos capazes de ver e ouvir.
Ser a poça que reflete a lua, o brejo dissoluto, o barco
que regressa cheio de peixes.
Desejaria ser capaz de olhar para a vida como saído
de um coma.
Ser capaz de sentir alegria e saudades por coisas que
já não importam. Coisas que já foram tudo.
Queria ser capaz de me limpar das infâmias, dos males que
causei, e ainda causo.
Queria deixar de ser estúpido, ignorante, presunçoso.
Estar disponível para ouvir. Ter a humildade de aprender,
pedir desculpas, voltar atrás.
Quisera me reconciliar comigo mesmo, antes que seja tarde.
Quisera aprender a amar direito, antes tarde do que nunca.
Descobrir que não me falta nada, me sentir de bem com a vida.
E seguir em frente sem olhar para trás.
Forte e frágil como uma criança.