idas e vindas
Partir sem motivos para partir.
Existir sem querer existir.
Ir e vir sem desejo de ficar
nem vontade de chegar.
Nos temores sem respostas, encontros
e despedidas unidos pelo mesmo mote.
Entre o azar e a sorte.
Entre o amor e a morte.
pombos sem asas
Por mais que eu tente,
falho em traduzir o que sinto,
mas não obstante o dolo, o ato falho,
o caralho, alhos e bugalhos, e os escambaus,
os tolos enganos são como pombos sem asas,
anseios vãos, vê-se claramente o quanto estou apaixonado,
não me pergunte os porquês
e comos,
quando não há entre nós sequer planos,
nem futuro.
contrastes
Envelheço.
Aos duros contrastes me submeto
como quem vai para o cadafalso.
Eu tinha a ilusão de ser infinito
o sentimento que era meu escudo,
e quebrei a cara.
Mas ainda não perdi o prazer pelo jogo.
Meu viver é solitário, mas das fugas e sonhos
me libertei.
Ao temor de ser eu mesmo, me adaptei.
Na realidade de éter e de gesso,
tudo tem seu preço.
Pago de bom grado.
Sei que em breve serei descartado,
como tudo que já cumpriu seu papel.
Atitude
Quando, em poucos dias, seu filho mais velho manda você calar a boca e não se intrometer em seus assuntos pessoais; quando seu filho adolescente diz não dar 1% de importância a suas opiniões; e sua suposta namorada, com quem você se preocupa, gosta, e ajuda financeiramente, diz não haver nada entre vocês além de uma troca de favores, inevitável não se perguntar o quê está fazendo de errado.
E mudar de atitude.
o glorioso destino
de um mundo sem poesia
A fome, a miséria, carcaças apodrecendo a céu aberto
não rendem poesia.
Os hábitos, os vícios, os gostos modernos não rendem poesia.
Os eternos conflitos hegemônicos e étnico-religiosos,
não rendem poesia.
A nova escala de valores da pós-modernidade não rende poesia.
O recrudescimento de estupros, violência doméstica
e discriminações de toda espécie, não rendem poesia.
A crescente desigualdade social, a falácia político-religiosa,
a manipulação midiática, não rendem poesia.
O exibicionismo, a ostentação, as aberrações, os golpes,
as fraudes, em suma, as mazelas do mundo digital
não rendem poesia.
Grandes transformações abarcam e tangem a humanidade
para seu glorioso destino.
Em que a poesia não é mais necessária.
Nem o amor, à venda na Internet, como tudo que é descartável.
a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...