domingo, 28 de agosto de 2022

 



                                idas e vindas



Partir sem motivos para partir.

Existir sem querer existir.

Ir e vir sem desejo de ficar

nem vontade de chegar.


Nos temores sem respostas, encontros 

e despedidas unidos pelo mesmo mote.

Entre o azar e a sorte.

Entre o amor e a morte.





                 pombos sem asas



Por mais que eu tente,

falho em traduzir o que sinto,

mas não obstante o dolo, o ato falho,

o caralho, alhos e bugalhos, e os escambaus,

os tolos enganos são como pombos sem asas,

anseios vãos, vê-se claramente o quanto estou apaixonado,

não me pergunte os porquês

e comos,

quando não há entre nós sequer planos,

nem futuro.

 

sábado, 27 de agosto de 2022



             o que somos ?





Se somos o que pensamos

Se somos o que comemos

Se somos o que queremos

O que somos, afinal ?

Pedaços de tolos enganos.




                 contrastes



 

Envelheço.

Aos duros contrastes me submeto

como quem vai para o cadafalso.

Eu tinha a ilusão de ser infinito

o sentimento que era meu escudo,

e quebrei a cara.

Mas ainda não perdi o prazer pelo jogo.

Meu viver é solitário, mas das fugas e sonhos

me libertei.

Ao temor de ser eu mesmo, me adaptei.

Na realidade de éter e de gesso,

tudo tem seu preço.

Pago de bom grado. 

Sei que em breve serei descartado, 

como tudo que já cumpriu seu papel.






 

 

sexta-feira, 26 de agosto de 2022



                     vivência


 




 

No tumulto aprender o valor da paz.

Na agitação, o valor do silêncio.

Na tristeza, o valor da alegria.

Na partida, o valor das coisas passadas.

Na solidão, o valor das coisas perdidas.

Tudo óbvio, desde que devidamente vivenciado.

Ninguém vive pelos outros. 





                            Atitude





Quando, em poucos dias, seu filho mais velho manda você calar a boca e não se intrometer em seus assuntos pessoais; quando seu filho adolescente diz não dar 1% de importância a suas opiniões; e sua suposta namorada, com quem você se preocupa, gosta, e ajuda financeiramente, diz não haver nada entre vocês além de uma troca de favores, inevitável não se perguntar o quê está fazendo de errado. 

E mudar de atitude. 





domingo, 21 de agosto de 2022



                  

      o glorioso destino 

      de um mundo sem poesia




tela de Salvador Dalli 




A fome, a miséria, carcaças apodrecendo a céu aberto

não rendem poesia.

Os hábitos, os vícios, os gostos modernos não rendem poesia.

Os eternos conflitos hegemônicos e étnico-religiosos, 

não rendem poesia.

A nova escala de valores da pós-modernidade não rende poesia.

O recrudescimento de estupros, violência doméstica 

e discriminações de toda espécie, não rendem poesia.

A crescente desigualdade social, a falácia político-religiosa,

a manipulação midiática, não rendem poesia.

O exibicionismo, a ostentação, as aberrações, os golpes,

as fraudes, em suma, as mazelas do mundo digital 

não rendem poesia.

Grandes transformações abarcam e tangem a humanidade 

para seu glorioso destino.

Em que a poesia não é mais necessária.

Nem o amor, à venda na Internet, como tudo que é descartável. 













   




 

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