doce ira
Gracioso e fúnebre.
Gracioso e fúnebre.
Todos os caminhos levam ao ergástulo.
Morrer pela espada.
Morrer pela fé.
Caminhos díspares que desde sempre se cruzam.
Doce brandura, doce ira,
dura é a vida
que com uma mão dá
e com a outra tira.
nada podia ser melhor
Meu momento é de contrição.
Mas sem remorsos vãos, porquanto inúteis.
No jogo jogado, as perdas e ganhos já não contam.
Tudo se resolveu por conta própria.
O mundo das coisas gastas, a dissipação das dúvidas,
os pináculos do pentagrama : o círculo se fecha
à desguisa das diásporas e metástases.
O tempo flui neutro.
Nada podia ser melhor.
A rosa cortada, a fórmula exata da vida desperdiçada
subtrai-se até o extravaso do bicho carpinteiro.
Meu momento : o coração saltimbanco, resgatado,
tergiversando, caindo de maduro ?
Please, poupem-me dos detalhes sórdidos...
Gazua não serve. Bazuca, talvez.
Como diria Leminski, em briga de camundongo perneta
com caranguejo capenga, abelhudo não se mete.
Se agora me interrogo é porque me desconheço.
Refugiando-me em Maracangalha.
Insignificantemente sujo, pouco, interdito.
Me busco onde está tudo perdido.
No nuliverso.
Agora deu.
quando algo vai mal
Quando sonhar é melhor que viver,
algo está errado.
Quando a mentira se sobrepõe a verdade,
algo se corrompeu.
Quando esquecer é preferível a lembrar,
algo se subverteu.
Quando duvidar é melhor que acreditar,
algo dentro de você se quebrou.
Quando perdemos a capacidade de amar,
algo dentro da gente morreu.
depois do caos, a bagunça
Meu reino por um unicórnio.
Não refuto o contraditório.
Desbabacar é preciso.
Iço a vela, ponho a isca, quem não arrisca não petisca.
Coito interrompido é um pé no saco.
Bípedes implumes catando cavaco, eita ferro !
Tese de maconheiro, não me venha com essa milonga.
Nada me pesa na consciência, esse unicórnio
que anda de lado, sai de finório, que nada sabe
nem se esforça.
Que não sabe nem faz acontecer.
O lance está nos desdetalhes.
A carótida está acima ou abaixo da jugular ?
No princípio era o caos, depois veio a bagunça.
Não que isso importe.
Todo esforço para entender o que não se resolve
é perda de tempo.
guardador de memórias
Algo sempre nos falta. Pouco é muito, muito é pouco.
Meus pensamentos levo-os à cortejos de triunfos
à prova de fábulas.
Defendo o meu lado, porém o vício de viver
é danado de bom.
O coração com fundo falso é fértil em expedientes.
Não é culpa minha não ser levado a sério. Ou a sério demais.
Guardador de memórias para as horas difíceis, obedeço
à distração que queima o fogo, extinta a vontade de ser
mais do que posso.
Meu mundo inundado de sonhos desfeitos anula as virtudes,
você sabe, ninguém é confiável.
A verdade sai pelo ladrão. Sem ser cético nem dogmático,
a cabeça funde : Maniqueu, cuida dos meus.
Cada um merece o que não tem.
Quanto mais, pior. Quem supre, os desejos defenestra.
A percepção é a argamassa que engendra
as hipóteses.
Nada justifica abolir o juízo. Senso e contrasenso
anexam-se e se opõem.
Há que encontrar um lugar adequado para o ausente.
Porque no fundo, tudo consiste em minorar
o sofrimento.
o quanto sei de mim Faço do meu papel o sonho de um desditado. Cavalgo unicórnios a passos lentos, para que o go...