sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023



                          matar ou morrer



Saiu menino de manhã.

Voltou homem à tarde.

Com amargura viçosa nos olhos.

O rosto acometido de escamas.

Forte de detritos e exímio em bordas de estradas.

De tão cedo que abraçou o mundo,

ninguém o reconhece mais.

De profissão de natureza esguia.

Raskolnikof talhado em sabedoria iletrada.

O pai o quereria morto.

Já a mãe fingia não ver.

O homem baldio.

Que cresceu na condição de matar ou morrer.

Resto anuroso de pessoa.

Cansado de ser ermo.

Sem um verme que o iluminasse.






 










 




                              um corpo cheio de alma






Envelheço.

Fugas, distrações, atos heroicos, onde me encaixo ?

Aos duros contrastes me adapto. 

Acordo para o que finda.

Não busco mais o ilibado.

Me acostumei aos malfeitos.

Os desafios dispenso.

Aprofundo minhas raízes com o simples propósito

de ser mais forte do que a dor 

que me aborda.

De me penitenciar ou rezar o terço prescindo.

Não almejo ser outra coisa que não um corpo

cheio de alma.

Capaz de tudo, inclusive de nada.





 





 

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023



                   o estagnar do estafermo






O inexistente aperfeiçoa o nada.

Eludem as coisas que não representam nada.

O lodo das estrelas, sarjetas cobertas de heras,

retratos de formaturas.

O arremedo encarde crepúsculos.

Nada endireita o que nasceu torto.

O livro de São Cipriano ensina como lidar.

Exceto o estagnar do estafermo.

A função da vida é exerce-la.

Pero isso até as pedras fazem.

No lugar do breve há só o espanto.

Brochuras não vingam em arcanos mentais.

Errante e preso, eis o vareio do saber.

Dizer nem uma coisa nem outra.

A fim de dizer todas as coisas ou nenhuma.

Reaprender a errar é um convite a ignorância.

Uma certa luxúria a liberdade convém.

Há que se dar um gosto incasto à vida.

Enquanto o nada acontece.









  



  



                          mágica





O dinheiro faz mágica

até quando acaba.

Faz pessoas desaparecerem.


               Quer saber quem realmente

                lhe quer bem ?

                Comece a dizer não.


Quando alguém lhe virar as costas,

não vá atrás. Agradeça.

Um encosto a menos.


                Às vezes a melhor maneira

                de resolver um problema é ignorá-lo.


Quando o seu melhor 

não bastar,

tente o pior.


            




 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023



Só posso ser melhor do que sou se, 

e tão somente se,

vir outro eu ser para mim

o que para ele serei.


(Paulo Leminski/ Catatau)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

 

em paz comigo mesmo


entardecer em Saint Vicent Beach


O dia em que eu não mais tiver olhos para o belo. Reparar na beleza do mundo.
O dia em que eu não puder fazer o que gosto, o que me dá prazer. Das coisas mais simples as obscenas.
O dia em que eu não puder andar por aí, gastar o tempo à toa, tomar um expresso no meio da manhã ou um chope ao cair da tarde.
O dia em que eu não sentir mais vontade de preparar algum prato especial para alguém especial, ou para mim mesmo. Com direito a um vinho escolhido a dedo.
O dia em que eu não reparar numa bela mulher passando, não arriscar um flerte, não cobiçar seu belo traseiro.
O dia em que eu não sentir mais vontade de vender meu peixe, literalmente falando, não perpetrar essas mal- traçadas que ninguém lê mas que são como o ar que respiro.
O dia em que eu acordar sem atentar para o canto amigo dos pássaros, e não agradecer mentalmente por tudo que tenho e desfruto.
O dia em que eu não for mais capaz de amarrar os cadarços dos sapatos, de limpar a própria bunda.
O dia em que eu olhar no espelho e não me reconhecer.
Bom, aí eu desejarei partir ou já terei ido desta para melhor. Talvez sem querer. Talvez sem saber.
Mas em paz comigo mesmo.



domingo, 5 de fevereiro de 2023




                    O CADUCEU DE HERMES





Sabido é aquele que não estraga tudo objetando.

O caduceu de Hermes é fértil de expedientes.

A ambiguidade do óbvio obsta as certezas.

Na dúvida, pois, continuemos abstratos. 

A tentação do diabo é ser deus.

A justaposição dos brilhos costuma sair do trilhos.

Estou por ser, sempre !

De olho no dito lapidado pelo erudito.

Nas práticas cotidianas, a confirmação de tudo

que preferiu se furtar a se constituir.

O livre-arbítrio (democracia ? ) é um tiro no pé.

Que o diga quem nos legou essa esbórnia.

O erário público é a casa da mãe joana.

Em matéria de discernimento, convenhamos, escolaridade

não é documento.

Feliz de quem sabe lidar com os desmandos de viver.

É nas minúcias que o constatado se constata. E vice-versa.

O fim repete-se até o recomeço.

No Brasil, as instituições só servem para legitimar o ilícito,

é ou não é ?

Excelência uma ova !

Quem fez o mundo assim não teve tempo de pensar.

Deu no que deu.

Quem tem cu, pisca.

Toda longa história é mal-contada.

Lapidar é ser espesso e definitivo.

Primeiro e único não existe. Ou é primeiro ou único.

Os dois, nem fodendo.

Muito é demais, como se sabe.

Na era digital, língua ferina à disposição em qualquer latrina.

Quem ostenta não nega a origem.

Nenhum fraude se sustenta.

Tróia caiu, por que Brasília, não ?



















 




 








 

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