sábado, 8 de abril de 2023


                         coisas que não tem nome

                                 




No descomeço de tudo, coisas que não tem nome

se apropriam do acaso para traçar o destino traiçoeiro.

O vazio preenche os espaços rompendo muralhas,

arrefecendo ímpetos selvagens.

O coração estranho subjugado

pela visão mítica da realidade simbólica.


Parei de me enganar. O tempo de ser feliz

é escasso.

Somos escravos das aparências.

Laços se desfazem à noite, fragilizados 

pela inútil espera.

A consciência de silício incorpora os males

para superar as agruras.

Paixões fortuitas projetam dissabores orgânicos.

A compaixão releva os pecados que o amor

não perdoa.

O ardor sem contexto salva o mundo

da normalidade doentia.


 




             ecos 



Vasculhei as gavetas

Procurei nos quintais, nas grutas,

nos sótãos,

fotos, relicários, escritos,

ecos de dias distantes

de quando nada sabia da vida.

Obtuso. 

Feliz.



 




Nascemos, inocentes.

E logo nos vemos adestrados

sob normas idiotizantes. 





                          exorcismo



Na cama vazia

ainda sinto teu cheiro

de fêmea no cio.


Não há apego em nosso enleio.

Apenas desejo e sexo remunerado.

É assim que se exorciza

um amor não correspondido.




 

sexta-feira, 7 de abril de 2023


               

                                assalto simulado



                            


No epicentro do mundo, leis não escritas imperam.

Computadores decifram enigmas.

Pirâmides financeiras constroem e consomem

fortunas. 

Espertalhões amealham dinheiro que ninguém vê.

É o próprio assalto simulado.

No sobe-e-desce das bolsas,

a bolsa ou a vida ?





                acalanto do homem só




O que pode um homem esperar

do que ora sorri, ora dá nojo,

alheio ao propósito

da vaporosa vez do possível ?

O fardo tardo decomposto

adivinha faces de morrer.

Noturno e confidente.

Ao som remoto de aleluias eternas.


O que pode um homem saber

das vilipendiadas verdades

em que todas as mentiras se parecem ?

Por ventura, amar, não sabendo a quem amar,

sequer conhecer,

seres loucos e dissimulados,

que nunca falam a mesma linguagem ?

O que pode salvá-lo da flor-mulher-Capitu, 

de olhar oblíquo e dissimulado ?


O que pode um homem que não entende

as sutilezas dos cansaços e gestos filtrados

do grande e incorpóreo nada ? 

Perseguindo e perseguido pelo conhecimento 

que interroga a repartida orbe e maltrata a terra nua.

Sensações sem luz e caridade perseguem o

hermético lábio.

Consumido em clarões em susto, lumes de paixões

que ferem sem sonhar-se.


O que pode um homem fazer, ante o que 

se esconde nas frinchas do tempo ?

Na polpa do ser, mil máscaras se dispersam 

no sujo e esquecido repasto das coisas.

Ignoto, covarde como um desertor, não obstante,

irradiando surda sabedoria,

o que pode um homem só senão apegar-se

ao que não passa.

A morte que o procura.

Ao acalanto do desterro.

O cio, a vida, a poesia como 

fiel companhia. 





 



terça-feira, 4 de abril de 2023



                        a alegria do povo



Futebol é a alegria do povo.

Muito mais que um simples jogo.

É diversão, batalha estilizada, catarse.

Ludismo para todos os gostos e idades.


Futebol é paixão sem explicação.

Jogando ou assistindo, arrebata milhões.

Não discrimina raça, credo, nível social.

Nada pode ser mais democrático e radical.


Futebol é a alegria de ricos e de pobres.

Amor que não se cansa nem exaure.

Tudo o que mais se quer é a emoção

de soltar o grito de "é campeão!".





 

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