Em matéria de relacionamentos, às vezes
é melhor não passar das generalidades.
vozes e ecos
Imagens congeladas no tempo.
Os folguedos de menino.
O rio portentoso de águas barrentas.
Dois cães amorosos e vigilantes.
Uma anciã de coração de ouro.
Céus estrelados à perder de vista.
O idioma alemão da colônia de Santo Angelo.
As longas viagens em busca de um destino.
O passado não me abandona.
Talvez não tenha sido eu o outro que fui.
Vozes e ecos evolam as novas gerações.
Já não me reconheço mas sigo a sonhar-me.
Refém de um tempo extinto.
Encantado de paz e silêncio.
perto dos meus longes
Minha vida é uma janela aberta para o nada.
De onde me refaço contemplando o inexistente.
Meus dias, feras enjauladas, tateiam a superfície dos
sonhos desfeitos.
Descomplicar é preciso.
Reconsiderar é preciso.
Viver a vida sem que as palavras a representem.
Pensar mais nos vivos do que nos mortos.
Mesmo que os tempos idos tenham sido os melhores.
Rendemo-nos aos fatos : as coisas se resolvem por si mesmas.
Não é à toa que o mundo dá voltas.
Aqui e agora é tudo o que importa.
Jamais nos livraremos das imposturas, mas o tempo
é o melhor unguento, e o sofrimento nos faz melhores.
O inexplicável se descobre pouco a pouco, entre iluminuras
e colunas perenes.
Perto dos meus longes é onde me encontro.
sem querer, querendo
Às vezes me pego pensando nela.
Sem querer, querendo.
Porque as lembranças de um grande amor
com o tempo se sobrepõem a raiva.
A longo prazo tudo arrefece.
Amor e ódio.
Ódio e amor.
Forças antagônicas, quando misturadas,
acabam se neutralizando.
E o que sobra é um misto de mágoa e nostalgia
que não consta no dicionário.
a vida não é para amadores
Não, a vida não é para amadores.
Mas não sejamos tão exigentes.
Conosco e convosco, sigamos além do engano.
Apesar dos pesares, o agora se ajusta a indubitável espera.
Ao bulício das colheitas de ternura.
A azáfama das plantações que pendem maduras.
A paz chucra clama pela ausência dos males.
Não obstante a alma cheia de delírios, não é a paixão
que me desencaminha.
Ah, meu amor, talvez nem sintas o que eu sinto.
A vida por demais assombrada inventa mundos novos.
Flores apaixonadas escutam as estrelas.
Tu me adivinhas sobre teu corpo manso, cheio de passados
e futuros.
Grandioso e carrancudo, o amor colhe animosidades
desconfiadas.
A luz dos roteiros distorcidos de antigamente, um tremor
me alucina os pensamentos.
Não, a vida não é para amadores.
Não há sabedoria que chegue.
Ao sarcástico predomínio da matéria de bom grado
sacrificamos a alma indolente.
pelo que seremos lembrados
Nossas atos respondem por nós.
Sob critérios que nem Deus entende.
Boas intenções não contam.
Reputação que se respeite consiste em conciliar
conceitos e preconceitos.
A cama de Precusto é à gosto do freguês.
Judas é mais lembrado pela traição do que por ter sido
o apóstolo favorito de Jesus.
Os três "nãos" de Pedro pesam mais do que seu
grandioso apostolado.
Uma ação impensada, uma decisão impulsiva,
um filho indesejado, e o estrago está feito.
Erros, eventuais infâmias, pecados sem perdão, nunca falta
quem atire a primeira.
Mais sorte tem um cão, que não tem inimigos.
Sistematiza-se os contatos, os contrastes, difunde-se
as versões, as exaltações graveolentes
oriundas de cada liberdade malsinada, impregnadas
do suar negro da morte.
Tudo somado, somos e seremos binômios infames,
teleguiados putativos, arremedos de finestras malditas,
belezas fraccionadas,
o bem e o mal embolados, trocando de lado, vida e morte
no mesmo corpo, ação e vocação sob o chumbo
trocado das tentações.
À mercê de tentáculos desembaraçados de si mesmo.
O homem liberto tudo pode. O duro aprendizado se resume
em não saber.
A honestidade é uma faca de dois gumes, dividimos
para somar.
O preço da existência é impagável.
Antros de perdição nos espreitam.
Descortina-se o inimaginável em detrimento do impensável.
Somos aqueles que a morte emula e emoldura.
Na fim das contas, pouco ou quase nada dura
na vida oca e de barro.
a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...