sábado, 2 de março de 2024



Em matéria de relacionamentos, às vezes

é melhor não passar das generalidades.


 



                              vozes e ecos





Imagens congeladas no tempo.

Os folguedos de menino.

O rio portentoso de águas barrentas.

Dois cães amorosos e vigilantes.

Uma anciã de coração de ouro.

Céus estrelados à perder de vista.

O idioma alemão da colônia de Santo Angelo.

As longas viagens em busca de um destino.


O passado não me abandona.

Talvez não tenha sido eu o outro que fui.

Vozes e ecos evolam as novas gerações.

Já não me reconheço mas sigo a sonhar-me.

Refém de um tempo extinto.

Encantado de paz e silêncio. 










 

sábado, 24 de fevereiro de 2024


                                 perto dos meus longes





Minha vida é uma janela aberta para o nada.

De onde me refaço contemplando o inexistente.

Meus dias, feras enjauladas, tateiam a superfície dos

sonhos desfeitos.

Descomplicar é preciso.

Reconsiderar é preciso.

Viver a vida sem que as palavras a representem.

Pensar mais nos vivos do que nos mortos.

Mesmo que os tempos idos tenham sido os melhores.

Rendemo-nos aos fatos : as coisas se resolvem por si mesmas.

Não é à toa que o mundo dá voltas.

Aqui e agora é tudo o que importa.

Jamais nos livraremos das imposturas, mas o tempo

é o melhor unguento, e o sofrimento nos faz melhores. 

O inexplicável se descobre pouco a pouco, entre iluminuras

e colunas perenes.

Perto dos meus longes é onde me encontro.










sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024



                                         medo





Vivemos com medo.

Medo de perder o emprego.

Medo de ficar doente.

Medo do futuro.

Medo de não dar conta

de pagar tanta conta.

Medo de ladrão.

Medo do Xandão.

Medo de amar e não ser correspondido.

Medo de ser esquecido.

Todo mundo tem algum tipo de medo.

Meu medo é andar de avião.



quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024



                sem querer, querendo





Às vezes me pego pensando nela.

Sem querer, querendo.

Porque as lembranças de um grande amor

com o tempo se sobrepõem a raiva.

A longo prazo tudo arrefece.

Amor e ódio.

Ódio e amor. 

Forças antagônicas, quando misturadas, 

acabam se neutralizando.

E o que sobra é um misto de mágoa e nostalgia

que não consta no dicionário.




 




terça-feira, 20 de fevereiro de 2024


                      a vida não é para amadores





Não, a vida não é para amadores.

Mas não sejamos tão exigentes.

Conosco e convosco, sigamos além do engano.

Apesar dos pesares, o agora se ajusta a indubitável espera.

Ao bulício das colheitas de ternura. 

A azáfama das plantações que pendem maduras.

A paz chucra clama pela ausência dos males.


Não obstante a alma cheia de delírios, não é a paixão

que me desencaminha.

Ah, meu amor, talvez nem sintas o que eu sinto.

A vida por demais assombrada inventa mundos novos.

Flores apaixonadas escutam as estrelas. 

Tu me adivinhas sobre teu corpo manso, cheio de passados

e futuros.

Grandioso e carrancudo, o amor colhe animosidades

desconfiadas.

A luz dos roteiros distorcidos de antigamente, um tremor 

me alucina os pensamentos.

Não, a vida não é para amadores. 

Não há sabedoria que chegue. 

Ao sarcástico predomínio da matéria de bom grado

sacrificamos a alma indolente.







 





domingo, 18 de fevereiro de 2024



                      pelo que seremos lembrados





Nossas atos respondem por nós.

Sob critérios que nem Deus entende.

Boas intenções não contam.

Reputação que se respeite consiste em conciliar 

conceitos e preconceitos.

A cama de Precusto é à gosto do freguês.

Judas é mais lembrado pela traição do que por ter sido 

o apóstolo favorito de Jesus.

Os três "nãos" de Pedro pesam mais do que seu

grandioso apostolado.

Uma ação impensada, uma decisão impulsiva, 

um filho indesejado, e o estrago está feito.

Erros, eventuais infâmias, pecados sem perdão, nunca falta

quem atire a primeira.

Mais sorte tem um cão, que não tem inimigos.

Sistematiza-se os contatos, os contrastes, difunde-se 

as versões, as exaltações graveolentes  

oriundas de cada liberdade malsinada, impregnadas

do suar negro da morte.


Tudo somado, somos e seremos binômios infames,

teleguiados putativos, arremedos de finestras malditas, 

belezas fraccionadas,

o bem e o mal embolados, trocando de lado, vida e morte

no mesmo corpo, ação e vocação sob o chumbo 

trocado das tentações. 

À mercê de tentáculos desembaraçados de si mesmo.


O homem liberto tudo pode. O duro aprendizado se resume

em não saber.

A honestidade é uma faca de dois gumes, dividimos 

para somar.

O preço da existência é impagável. 

Antros de perdição nos espreitam.

Descortina-se o inimaginável em detrimento do impensável.

Somos aqueles que a morte emula e emoldura.

Na fim das contas, pouco ou quase nada dura

na vida oca e de barro.





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