fulano de tal
Os ruídos da cidade rompem as litanias festejantes.
A multidão obediente vai e vem, devidamente
pautada e rastreada.
Ruminando causas perdidas.
Respirando o ar poluído da privacidade
vigiada.
No pleno gozo da liberdade sujeita aos humores
de magistrados biltres.
A via modernosa trespassa-se no fio da navalha.
Qualquer descuido e a maionese desanda.
Do nada, a casa cai.
Ao essencial averba-se o dízimo de pau e pedra.
Estraga-se a vida em excelsos jogos.
Dissolvida em desejos castrados e alegorias multimídias.
Desvirtuada por amores tortos, overdoses de funks
do baixo meretrício.
A bulha dos inconformados exorciza os adoradores
de umbigo.
O tempo das verdades sonegadas guarda segredos
enfurecidos.
Destextualizar a indignação coletiva inaugura a era
da pseudo-democracia.
Os paradoxos convivem naturalmente, até quando ?
O difícil desacomoda-se correndo riscos.
A incomunicabilidade é a trincheira da última bala.
Cúmplice de muitos e finos tratos, fulano de tal
rendeu-se a linguagem gloriosa e guerrilheira
da indignação recidiva,
reconhecendo a dualidade de não sentir falta
do que não se vive sem.
Poderia ser alguém conhecido, alguém
entre inúmeras pessoas cuja existência ignoramos,
num tempo hipotético, de longos caules,
saindo do armário, nem doce nem amargo,
impregnado de valores abstratos,
o próprio proto-macho-moderno-hermafrodita
num rio de piranhas, morrendo de sede no
líquido amniótico, privado do sol da própria casa,
entre avencas, lírios, rosas, articuladas em tempos
difíceis, com fome de mísseis e amores putrefatos.
Um fulano de tal ungido e compungido pela palavra asfixiada,
avant la lettre a metafísica das loucuras, a fim de libertar
o fogo trancado,
as cataratas de oceanos, em pleno exercício de remissão,
para que as profecias se cumpram e os cardumes
de sardinha encontrem paz na pança das baleias.
Um fulano de tal que busca a perfeição que não existe,
o entendimento que santifica o profano, saciar a fome que
alimenta a carne, despoluir o espírito do peso da salvação,
o alter ego mais cego que morcego,
o candeeiro de estrelas cavalgando o olimpo, escassez ou
excesso, tanto faz.
Um fulano de tal que sonha partir desta para melhor triunfalmente,
perdoando a mágoa, liberto e reconciliado com as entristecidas
células, limpo de espírito, em paz com o Altíssimo, frutificado
sobre a terra o seu quinhão à criação, pronto para cumprir o
destino glorioso do Bardo Thödol.
Que assim seja, AMÉM !