domingo, 12 de maio de 2024


                                                     fulano de tal





Os ruídos da cidade rompem as litanias festejantes. 

A multidão obediente vai e vem, devidamente 

pautada e rastreada.

Ruminando causas perdidas.

Respirando o ar poluído da privacidade

vigiada.

No pleno gozo da liberdade sujeita aos humores 

de magistrados biltres.


A via modernosa trespassa-se no fio da navalha.

Qualquer descuido e a maionese desanda.

Do nada, a casa cai. 

Ao essencial averba-se o dízimo de pau e pedra.

Estraga-se a vida em excelsos jogos.

Dissolvida em desejos castrados e alegorias multimídias.

Desvirtuada por amores tortos, overdoses de funks 

do baixo meretrício.

A bulha dos inconformados exorciza os adoradores

de umbigo.


O tempo das verdades sonegadas guarda segredos 

enfurecidos.

Destextualizar a indignação coletiva inaugura a era

da pseudo-democracia.

Os paradoxos convivem naturalmente, até quando ?

O difícil desacomoda-se correndo riscos.

A incomunicabilidade é a trincheira da última bala.


Cúmplice de muitos e finos tratos, fulano de tal

rendeu-se a linguagem gloriosa e guerrilheira

da indignação recidiva, 

reconhecendo a dualidade de não sentir falta

do que não se vive sem.

Poderia ser alguém conhecido, alguém

entre inúmeras pessoas cuja existência ignoramos,

num tempo hipotético, de longos caules,

saindo do armário, nem doce nem amargo,

impregnado de valores abstratos,

o próprio proto-macho-moderno-hermafrodita

num rio de piranhas, morrendo de sede no

líquido amniótico, privado do sol da própria casa,

entre avencas, lírios, rosas, articuladas em tempos

difíceis, com fome de mísseis e amores putrefatos.


Um fulano de tal ungido e compungido pela palavra asfixiada,

avant la lettre a metafísica das loucuras, a fim de libertar 

o fogo trancado,

as cataratas de oceanos, em pleno exercício de remissão, 

para que as profecias se cumpram e os cardumes

de sardinha encontrem paz na pança das baleias.


Um fulano de tal que busca a perfeição que não existe, 

o entendimento que santifica o profano, saciar a fome que

alimenta a carne, despoluir o espírito do peso da salvação,

o alter ego mais cego que morcego, 

o candeeiro de estrelas cavalgando o olimpo, escassez ou

excesso, tanto faz.


Um fulano de tal que sonha partir desta para melhor triunfalmente,

perdoando a mágoa, liberto e reconciliado com as entristecidas

células, limpo de espírito, em paz com o Altíssimo, frutificado

sobre a terra o seu quinhão à criação, pronto para cumprir o

destino glorioso do Bardo Thödol. 


Que assim seja, AMÉM !   



















  



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

                            a noite eterna a noite eterna chega devagar a vida passa devagar até tudo passar e você de repente acordar sozin...