quinta-feira, 11 de julho de 2024


                               nação de nibelungos



Aqui e alhures, 

gesta-se burgos de nibelungos. 

Emoções coaguladas envelhecem por dentro,

à luz dos escombros cotidianos.

A força imaterial das escaramuças dispersa

o povo exangue.

O ermo aspira e sacia-se da lucidez que aniquila.

Refestelamo-nos, cansados de recriar as estórias 

sob o mesmo alvitre.

O alento que infunde o gemido da linguagem 

presume a dor e a cria.

O surdo clamor da justiça mantém-se em rancoroso

desdém, enquanto o galope louco dos dias

urde as mesmas máscaras e presságios.

Herdamos o futuro que se esgarça

iluminado de sombras.

Não há esperança para uma nação de nibelungos. 



terça-feira, 9 de julho de 2024




Minhas mãos estão frias.

Meus pés estão gelados. 

O frio aquece minha alma penada.




                                         relógio quebrado




A paisagem diz-me coisas incorrigíveis.

Vento e enxárcias se confundem e se fundem

em singela cumplicidade.

Andei, andei, até a lonjura brincar de ausência.

Tudo o que perdi paira como um amoroso 

conclave de lembranças.

Onde vivi a paisagem depura-se.

Cruel como um relógio quebrado.



domingo, 7 de julho de 2024



                suja e sem memória




Exima-se da vida que remexe as feridas.

Da vida que consome e fustiga.

Que de ódio e ira se irriga.

Em conformidade com o abismo e o pélago 

das diatribes.

Tão cauta e docemente cruel que atravessa 

os limites do tempo. 

De forma a perpetuar o pervertido, o prazer

de ferir.


Exima-se da vida proficiente em álcool, 

drogas, truculência.

Exímia em embustes e luxúria sem moratória.

Reinventada suja e sem memória.

Para glória do Pai Eterno.


 


                            ai de quem





Ai de quem reclama da vida de barriga cheia.

Faz jus a uma bela caganeira.


Ai de quem inveja e sacaneia.

Pois nunca sairá da merda.


Ai de quem joga sujo e trapaceia.

Acaba sem eira nem beira.





                     a última casca

                  ( ou o amor temporão)






O amor nunca acaba.

Mesmo quando acaba.

Enquanto há vida,

de um jeito ou de outro, 

o amor sempre se renova.

Nunca morre,

apenas muda de casca.


Digo-o porque amei e fui amado.

Fui feliz e desenganado.

A ponto de me endurecer o coração maltratado.

Mas eis que quando já mais nada esperava,

cansado e desiludido,

o amor ressurge gigante

da forma mais sublime e cativante.

Como só o amor por um filho pode ser.


Pois bem-vindo seja, meu novo 

e definitivo amor.

Que a vida te retribua a incomparável

felicidade que vieste me proporcionar.

Esteja certo de que mais que uma simples

casca,

é de uma armadura que este amor temporão

se reveste.







sábado, 6 de julho de 2024



                     o futuro é breve e sombrio





Em vão o cosmos articula  

o sangrento pacto com o desconhecido.

A realidade de fogo destrói o mundo postulado

pelo mistério de existir.

Um  homem morto na cruz resplende à clâmide 

da ciência austera e calma.

Úmida raiva verte lágrimas ardentes.

Quando, ao pé do Criador, o horror fecunda

as vigílias sem fim.


Fuga e pó cobrem o zênite malsinados dos horizontes.

Tudo fenece sob a paz estrelar do universo.

Em cada ríspida mudez, a fúria lasciva e louca

blasfema o amor.

A despeito da eterna luta da sobrevivência,

nascemos para incendiar as florestas e sujar os mares.

O futuro é breve e sombrio.


 




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