quinta-feira, 8 de agosto de 2024



                          ancestralidade




 

 

Um manto de veludo cobre a noite.

A lua chega de mansinho, procurando um lugar

para dormir.

As estrelas parecem derreter, confabulando

com o infinito.

O espaço abriga os ossos da eternidade.

O resto é luz 

transformada em travesseiros de sonhos.




 



                    emulações


                           tela de Agim Sulaj


A vida mortífera vê o túmulo de perto.

O tempo que passa eternamente é abundante e velado.

A morte passeia entre lobos e cordeiros, com 

os lábios calados em reverência à podridão da terra.

Todos carentes de qualquer coisa guardam segredos

nas profundezas.

Homens vidrados em mutilações apertam-se as mãos,

enquanto se ignoram. 

Onde não há esperança o céu respira feridas abertas.

O Oriente se vinga do Ocidente falsificando 

o sangue negro.

Até quando dormirá o Leviatã de Tanakh ?

O Muro da Lamentações zomba da verdade.

Sem testemunhas, o mundo converte paredes

e emulações réprobas em pensamentos.

Para que a humanidade rumine a paz.



quarta-feira, 7 de agosto de 2024


                          onde viemos parar ?





Decifra-me ou te devoro.

Deveria ser o lema de escrevinhadores metidos à poeta.

Tremem nas bases os infames sacrilégios à flor

mais inculta do que bela, após virar saco de pancada

no pantagruélico palco das redes sociais.

Da largata à barbuleta,

digo, da lagarta à borboleta, a realidade frondosa de teclas

monitores e-mails, imigra do Lácio,

deportando os devaneios e circunlóquios ( do lirismo

comedido ? ) ao pé das garatujas virais.   


Dos pináculos da Grécia antiga ao porrete no lombo

da gnoseologia, onde viemos parar ?

Para isso foram expulsos da Hélades os lafranhudos titãs

precursores do Grande Vate ?

Ora, direis, para quê ?

Embasbaquem-se os prelos virtuais ante

a prescrição do venerando vernáculo.



domingo, 4 de agosto de 2024


               o mal da minha cura





Não venha falar dos meus defeitos.

Você nem me conhece direito.

Nem faz a menor questão.

A sua opinião sempre prevalece.

Estando certa ou não.

Não se contenta com pouco.

Quer do bom e do melhor.

Não lhe tiro a razão.

É bom ter ambição.

Mas, veja lá, sem passar por cima dos outros.

Faz gato e sapato do meu coração.

Você sempre certa e eu sempre errado.

Já passou da hora de dar um basta.

Vivo me sentindo um bosta.

Assim não quero mais, não.

Não tenha mais idade para ficar ouvindo sermão.

Garota, vê se se enxerga.

Você é gostosa mas não é a única.

A oferta está maior que a procura.

Não queira ser o mal da minha cura.




                                  meigos dilemas





Não foi de repente,

como uma dessas fatalidades

que às vezes acontecem.

Não foi premeditado, programado, que juízo

e bom senso nunca foram o meu forte.

Simplesmente foi acontecendo.

Tão somente maturando, como a fruta, a idade, 

num repartir-se nunca aprendido

e aos poucos despovoado.


Vi o fender invisível da vida atormentado

por meigos dilemas.

Querendo tudo sem investir nada,

num abranger ególatra feito de sonhos turvos

e âncoras de espuma.

Meus restos ficaram pelo caminho

conjurando os passos erradios.

Para voltar a ser o que deveria ter sido.

Alguém mais íntegro e autoral.

Um homem que precisou perder-se para se encontrar.


O que ficou para trás enfim encontrou o seu lugar.

Como um rio subterrâneo que desaparece

no sumidouro do mundo.



sábado, 3 de agosto de 2024



                              a poeira do tempo



Há muitos caminhos

e um só destino. 


                 A poeira do tempo

                 dispersa os enganos.


Porque eu preciso contar o que vi

antes que me esqueça.


                  Velhas pontes.

                  Ruas vazias.

                  Casas abandonadas.

                  Surdos clamores.

                  A vida se desmancha

                  em turvos esgares. 


A beleza que encanta 

é a mesma que corrompe.


                    O pior de tudo é ver

                     e não entender.




                      o mais lindo sentimento


À Benício Berger, meu filho




Monólogos sem eco,

completamente fora de propósito,

pairam como sonhos de ourivesaria.

No relax das colheitas, eis que o amor circundante

urde o mais lindo sentimento

jamais sentido.

Inadvertidamente, como um cão que atravessa a rua apinhada

de carros.

Acalanto de água macia num rio hostil.

Caloroso incenso coalhado de azul.

Parnaso onde o brusco andar se amolda às febres e chagas.

E a própria oquidão espreita a clara inocência

do amor sem lonjura. 


Neste candor que tudo ignora,

me vejo como o avesso de um espelho,

em périplo desorbitado sem plano de fuga.

Quando te estreito nos braços, rebento inesperado

em tempos de crepúsculo,

sinto-me como se jamais fosse morrer.


Postagem em destaque

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