domingo, 11 de agosto de 2024



                            oferendas





A cruz não se opõe a novas trevas.

Ancestrais desígnios esmagados no nascedouro

saúdam os recém-nascidos.

Legiões de parasitas e pederastas fazem as honras da casa.

O desconhecido veste o manto roto das penitências.

Oferendas de lábios e úteros metálicos contornam

a solidão de arame farpado.

Não há para onde fugir dos campos minados de Alquds.

O tumor da terra desconhece a compaixão.

O Oculto dá-se ao luxo de ficar calado, enquanto

renova o pacto com o demônio.

O que dizer às crianças sobre o mundo caduco

que as espera ?



 

 

sábado, 10 de agosto de 2024

                        

                         carnificina




O mundo é um grande moedor de carne.

Milhares de rebanhos, cardumes, espécies, são

dizimados todo santo dia.

De todas as idades.

De todas as formas.

Degoladas, esfoladas, trituradas, descamadas

sem dó nem piedade.

Rios de sangue e montanhas de ossos dão testemunho

dessa atroz carnificina.

O apetite da espécie humana é insaciável.







                     o sêmen do mal



 
O mal é o sêmen de mirantes ensandecidos

muros perfumados

antros suicidas

grotas que arrotam morte.

Não há hipótese de uma nova ordem.

É sempre o mesmo furor e sua beleza estonteante.

O Inferno parecendo o Paraíso, e o Paraíso parecendo

o Inferno.

Nunca se sabe qual é o melhor ou o pior.

Atrocidades não têm credo, raça, preferências.

Onde cresce o fungo da discórdia e da intolerância

jaz o mausoléu das crenças.

A ordem que rege a humanidade gira em torno de abismos.

Mutirões de eleatas removem montanhas que desatam nós,

com a fé de anjos que perderam as asas.

A civilização se rende à sua própria sorte.

Como um moribundo que não morre nem se cura. 








sexta-feira, 9 de agosto de 2024



                             aptidões





Sou bom em tudo aquilo que não serve para nada.


                  Não brigo com os fatos.

                  Barganho.


Uma das (poucas) vantagens de ser pai na velhice

é saber que não terá tempo de ver o produto final.


                A vida só se revela totalmente

                quando você percebe que foi enganado

                por todo mundo.


O que nos habilita ao sucesso e ao fracasso

é basicamente a mesma coisa.

Aptidão.


                O santo e o herege são igualmente degenerados,

                por motivos opostos.





quinta-feira, 8 de agosto de 2024



                          ancestralidade




 

 

Um manto de veludo cobre a noite.

A lua chega de mansinho, procurando um lugar

para dormir.

As estrelas parecem derreter, confabulando

com o infinito.

O espaço abriga os ossos da eternidade.

O resto é luz 

transformada em travesseiros de sonhos.




 



                    emulações


                           tela de Agim Sulaj


A vida mortífera vê o túmulo de perto.

O tempo que passa eternamente é abundante e velado.

A morte passeia entre lobos e cordeiros, com 

os lábios calados em reverência à podridão da terra.

Todos carentes de qualquer coisa guardam segredos

nas profundezas.

Homens vidrados em mutilações apertam-se as mãos,

enquanto se ignoram. 

Onde não há esperança o céu respira feridas abertas.

O Oriente se vinga do Ocidente falsificando 

o sangue negro.

Até quando dormirá o Leviatã de Tanakh ?

O Muro da Lamentações zomba da verdade.

Sem testemunhas, o mundo converte paredes

e emulações réprobas em pensamentos.

Para que a humanidade rumine a paz.



quarta-feira, 7 de agosto de 2024


                          onde viemos parar ?





Decifra-me ou te devoro.

Deveria ser o lema de escrevinhadores metidos à poeta.

Tremem nas bases os infames sacrilégios à flor

mais inculta do que bela, após virar saco de pancada

no pantagruélico palco das redes sociais.

Da largata à barbuleta,

digo, da lagarta à borboleta, a realidade frondosa de teclas

monitores e-mails, imigra do Lácio,

deportando os devaneios e circunlóquios ( do lirismo

comedido ? ) ao pé das garatujas virais.   


Dos pináculos da Grécia antiga ao porrete no lombo

da gnoseologia, onde viemos parar ?

Para isso foram expulsos da Hélades os lafranhudos titãs

precursores do Grande Vate ?

Ora, direis, para quê ?

Embasbaquem-se os prelos virtuais ante

a prescrição do venerando vernáculo.



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                            de mal à pior Dissoluto, o mundo reinventa o seu inferno entre pressurosos prenúncios. As coisas presumidas foge...