segunda-feira, 2 de setembro de 2024


                          para ti e por ti




tela de Mark Ryden 

 


Colmeias histéricas se esmeram em colecionar façanhas.

Acusador e acusado trocam de lado, assim que extinto

o ônus da prova.

Cada fruto segue a verdade e a mentira com a mesma devoção.

Não há bem-aventurança na gravidez dos espinhos.

Palavras obscurecem o entendimento.

A dor desconhece a prece dos mortos.

Poças onipresentes velam esperanças afogadas.

Entre quatro paredes a loucura disfarça a realidade

cancerosa.

O mistério da vida inventa histórias e as desmente.

Toda mudez será perdoada.

Me vejo vagando entre cabeças cortadas e jihads  

sem sentido.

O truque é não levar nada à sério.

Promessas puxadas por carruagens de outrora zelam

pela existência cega.

O ser humano é carcereiro de si mesmo, quando

se priva da liberdade.

Todo sacrifício sabe de onde veio, mas não sabe se volta.

Para ti e por ti, o efêmero dispensa o eterno. 

Nada tema, a morte a todos espera 

de braços abertos.




 

domingo, 1 de setembro de 2024


                 em memória



Meus dias certamente seriam mais felizes com você.

Poder acordar a teu lado, sentir o teu corpo quente 

e envolvente que tão bem conheci.

Voltar a desfrutar da dedicação, do carinho que sempre me deu.

Sendo eu, em contrapartida, mais compreensivo, paciente, 

mais atento as tuas demandas e necessidades.

Em suma, ser melhor do que fui. Muito melhor.


Sinto imensamente tua falta e lamento por ter acabado

do jeito medíocre 

como os relacionamentos acabam.

Sempre achei que estávamos acima disso.

Sempre achei que você jamais me abandonaria.

E caí do cavalo.

E nem foi minha deplorável traição foi a causa maior.

Isso você até perdoou, fez vistas grossas.

A causa maior foi não ter levado à sério

tuas carências e expectativas.

E, sobretudo, não ter sabido lidar com 

o natural desgaste das relações com mais sabedoria.

O que competia muito mais a mim, pela própria

diferença de idade.

Meus dias certamente seriam mais felizes 

com ou sem você.

Se ainda estivesse viva.
























 

sábado, 31 de agosto de 2024


             o alfabeto dos sonhos




Outro recomeço, digam-me, sábios de plantão,

por onde começo ?

Como trocar o ausente pela existência do que

ainda não existe ?

Se o que mal terminou ainda é banquete farto 

para lobos e hienas ?

Digam-me como costurar as linhas do tempo 

com as agulhas do perdão ?

Como convencer as sepulturas a reviver os mortos ?

Como reconstruir as pontes queimadas,

convencer as mãos da luxúria a soltar às rédeas ?

Como trocar o que fui pelo que quero ser ?


Recomeçar é mais difícil do que começar.

Não há mais margem para erro.

O barro dos recomeços é feito de despojos delicados

e cadáveres perfumados.

A busca por um lugar em lugar de outro é como convencer

o relâmpago a dançar a dança do trovão ( segundo o poeta

Adonis ) *.

No entanto, é preciso recomeçar. 

Convencer-se de que é capaz de reescrever

sua história.

O alfabeto dos sonhos não se desaprende.



* Ali Ahmad Said Esber, poeta árabe.



 



       assim tão pouco, e muito !



Tenho fé mas não creio.

Creio mas não confio.

Não faço mais parte dessa trama.

Ainda durmo de pijama e mesmo já não crendo,

rezo antes de dormir.

À quem rezo então ?

Sei tão pouco de mim, como vou saber ?

Desentendo tudo o que aprendo.

Mas já me dei conta que é difícil morrer

quando se quer morrer.

Do contrário, já teria partido desta para melhor (?).

Deus sabe o que faz, é o que dizem.

Assim tão pouco, e muito !





sexta-feira, 30 de agosto de 2024



                     novos tesouros





De tudo e por tudo,

o esquecimento é uma benção.

Mesmo os melhores dias, convém não por

acima dos demais.

Sob pena de estabelecer padrões fora do normal.

Por melhor que tenha sido o passado,

o presente é tudo que há.

E em não sendo possível voltar no tempo,

o que nos cabe é descobrir novas alternativas,

novos tesouros.

O sol sempre brilhará para que tiver olhos

para ver.

Se tudo hoje é enfadonho e vulgar, a quem culpar ?

Para quem esqueceu de esquecer, a sensação

do provisório fustiga e atormenta.

Dependente do que foi, em detrimento

do que poderia ser.


 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024




                   o cara ou coroa da vida





Falta-nos conhecimento

Falta-nos discernimento

Falta-nos bom senso

Falta-nos altruísmo

Falta-nos honestidade

Falta-nos lealdade

Falta-nos amor ao próximo

Falta-nos tudo

Em maior ou menor proporção

Conforme as circunstâncias

Ninguém é melhor que ninguém

Quando a vida nos põe à prova

Tudo pode acontecer

Coragem ou covardia

Dignidade ou baixeza

Vida ou morte

Sorte ou azar

São faces da mesma moeda

No cara e coroa da vida

Deus lava as mãos.



terça-feira, 27 de agosto de 2024

                

                 realidade e fantasia *

                           


Maior é sempre a dor

de não saber por quê dói.

Se não é por amor

Se não é por desamor

Por que dói ?


                Como era azul e grande 

                o meu sonho.

                Realidade e fantasia passaram 

                em direções opostas.

                Lentamente, o sonho sumiu,

                caiu no esquecimento,

                enchendo minha alma 

                de uma onda calma de sono.


* Reescrevendo Verlaine

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