sábado, 31 de agosto de 2024


             o alfabeto dos sonhos




Outro recomeço, digam-me, sábios de plantão,

por onde começo ?

Como trocar o ausente pela existência do que

ainda não existe ?

Se o que mal terminou ainda é banquete farto 

para lobos e hienas ?

Digam-me como costurar as linhas do tempo 

com as agulhas do perdão ?

Como convencer as sepulturas a reviver os mortos ?

Como reconstruir as pontes queimadas,

convencer as mãos da luxúria a soltar às rédeas ?

Como trocar o que fui pelo que quero ser ?


Recomeçar é mais difícil do que começar.

Não há mais margem para erro.

O barro dos recomeços é feito de despojos delicados

e cadáveres perfumados.

A busca por um lugar em lugar de outro é como convencer

o relâmpago a dançar a dança do trovão ( segundo o poeta

Adonis ) *.

No entanto, é preciso recomeçar. 

Convencer-se de que é capaz de reescrever

sua história.

O alfabeto dos sonhos não se desaprende.



* Ali Ahmad Said Esber, poeta árabe.



 

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