domingo, 8 de junho de 2025

                           fora de moda



Mesmo fora de moda e correndo o risco

de parecer piegas, 

me assumo um romântico da velha guarda. 

Mando flores, puxo a cadeira para as damas,

sou respeitoso com as palavras

e - santa heresia ! - dado a fazer poemas.


Sou sentimental, gosto das músicas antigas,

bolero, tango e tudo mais.

Ao contrário de hoje em dia, dou e exijo 

exclusividade. 

Curto andar de mãos dadas, jantar a luz de vela,

namorar no carro.

Não abro mão de muito beijo e abraço. 

Se bobear, até serenata faço.


Confesso meu desconforto com o imediatismo

de hoje em dia.

Que dispensa o ritual da conquista.

Estranho os relacionamentos vazios, 

a banalização do sexo,

o amor precificado.

Meu romantismo fora de moda

ainda acredita no amor verdadeiro.

Mesmo que precise inventa-lo. 












                         quando o mundo se quebra




Um dia o mundo se quebra.

E nada nunca mais será como antes.

Novos atores entram em cena,

com  suas armas e bagagens.

Perdido, o amor se lava de seus triunfos

e pecados.

Outras portas se abrem, enquanto o desencanto

inventa outras formas de viver.

Roendo o osso das banalidades

como um cão esfomeado.

Impregnado de valores abstratos.

Contrastando com ser.

Contrastando com estar.

Enquanto o silêncio se expande.


Quando o mundo quebra

outro surge, igualmente injusto.

Igualmente imundo.

Em que as dores de amores se dissipam

com outros amores.

 

sexta-feira, 6 de junho de 2025


                 um pouco de tudo


Já não estando, ficando

Já não querendo, dando

Dei de melhorar, piorando

Me perdendo, procurando


Ai de mim, meu olho não repousa

Tudo o que aumenta, piora

Tudo o que é vago e vulgar

encanta o mundo.


Miséria pouca é bagagem

No dia lindo de morrer, o terror ignora 

o cessar-fogo

Qualquer coisa é melhor que nenhuma


Carrego um pouco de tudo

Pedras preciosos e entulhos

Coisas que venho garimpando

nos descampados do mundo


Sou um pouco de tudo

Gente fina e vagabundo

Não sou herói nem bandido

Sou o vício da minha cura.






                    nem tanto ao mar, nem tanto a terra.



Nada do que tive se compara

ao que tenho agora. 

O presente é tudo o que importa.

De que vale lembrar das alegrias da vida pregressa

se tudo ficou para trás ?

Ainda mais que nem tudo foi tão bom, tão real,

como me parecia.

Que por melhor que a vida tenha sido, nada é duradouro.

Muito menos o amor.


Há que ter consciência de que a vida é feita

de altos e baixos.

Que o segredo é manter o prumo.

Sem se deixar levar pela empolgação ou pelo desespero.

Em suma, nem tanto ao mar, nem tanto a terra.

Ninguém é feliz sem conhecimento de causa.


  


        antes, durante, depois


Não sei se ainda há amor entre nós.

Se ainda é amor o que sinto.

Me dói admitir que já não te vejo como antes.

E certamente sentes o mesmo.

E eis que o impasse se estabelece.

Prosseguir, administrar, se conformar

com uma relação morna, 

baseada muito mais em companheirismo,

ou tirar o time, partir para outra ?


Não há como saber qual o melhor caminho.

Há muitos fatores em jogo, que exigem

reflexão, pé no chão.

Compreender o real significado 

do antes, durante e o depois.


De tanto amar nos perdemos no tempo.

Subitamente, nos vemos confusos, insatisfeitos.

Desejosos de auroras que não vimos.

De repente, tempos pressa e a insatisfação

nos leva a acreditar que há uma nova vida

à espera.

Redescobrir um Paraíso que nunca mais 

será o mesmo. 


Eis os fatos. Não se pode ter tudo.

E tudo tem um preço.

Não se iludir com o amor que chega

já de partida.

Trocar seis por meia dúzia.

Conferir o que vê no espelho.

Se mancar que talvez 

já tenha passado tua hora.






  


             caminhando sobre brasas


Não sei,

não vi,

se ainda há amor por aí.

Anônimo e desconfiado

Reciclado e desfigurado.

Imprevisível e obcecado.

À espera de algum coração desavisado.


Não sei, não vi, 

se ainda há amor por aí.

Como um oásis no deserto.

Ou o próprio deserto.

Imenso e falho.

Exótico e neurótico.

Expert em jogos eróticos.


Não sei, não vi,

se ainda há amor por aí.

Antigo como um manuscrito.

Cheio de sabedoria e loucura.

Convivendo entre facadas e prazeres.

À prova de dores e flores.

Como o amor deve ser.


Não sei, não vi,

se ainda há amor por aí.

Triunfante e debochado

Caminhando sobre brasas

Esbanjando defeitos e qualidades

Iluminado de escuridão

Como só o amor sabe ser.




quinta-feira, 5 de junho de 2025




                 a alquimia do amor


Difícil de encontrar

Mais difícil ainda de durar

A alquimia do amor mistura

o velho e o novo

sabedoria e loucura

luz e escuridão.


Findo o encanto, todos fracassam.

Do nascimento ao livre-arbítrio, 

tudo precisa ser visto e revisto.

o buraco negro da existência é mais embaixo.


Todos têm direito a ser feliz.

Poucos conseguem.

O amor é difícil de encontrar.

Mais ainda de durar.





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