a felicidade inventada
Já não sei mais como transpor
as barreiras festejantes
que transformam o coração
num bobo da corte.
A juventude, fonte de calorosos desejos,
ri furtivamente da nossa cara.
Nesses tempos profanos, não adianta dizer
eu te amo.
Só os tolos acreditam.
A ilusória felicidade é cúmplice de muitos abraços.
O meu amor é de pouca validade.
Pois nada é como já foi.
O muito hoje é pouco.
Na carestia dos sentimentos, não basta o dinheiro,
mansões, carrões.
O vazio existencial é o grande flagelo
da modernidade.
Nas franjas do tempo, o magnífico mundo
já não distingue gozo, orgias, putas.
As antigos valores escorrem pelas sarjetas imundas,
quase extintos, como o pau-Brasil.
Socorro-me de mim mesmo filtrando minha
dúbia consciência.
Sem saber em quem acreditar, em quem confiar.
Revisando as emoções, aposentando as enferrujadas utopias.
Em busca de uma felicidade nova,
ainda a ser, modernamente, inventada.



