quinta-feira, 31 de outubro de 2024



                    almas sem asas





Nos dias em que nada acontece, almas sem asas 

alçam voo sobre as vertentes do tempo.

Exalando ideias e ideais ordinariamente dispersos.

Quando sem rumo nem consenso, o coração assombrado 

aprende a viver sem impostura.

A glória dos flagelos prefere os descaminhos.

A mentira, velha senhora, ainda circunda as ameias.

Monótona, a vida emperra na instantaneidade 

mundana.

O primado das heresias introduz-se, adulterando 

as elegias da inocência.

O caos ferve em louvor ao sobre-humano,

para expulsar a dor do Paraíso. 




 

terça-feira, 29 de outubro de 2024

            Entre quatro paredes



Entre quatro paredes

O aconchego

O riso

Os sonhos amanhecidos.


Entre quatro paredes

O refúgio 

A solidão

As lembranças esmaecidas.


Entre quatro paredes 

A violência doméstica 

O sexo

Crianças estupradas.


Entre quatro paredes

A vida emparedada.




segunda-feira, 28 de outubro de 2024



                    amor sem juízo



O que fazer com o coração sem juízo,

consumido por um amor que, de repente,

nem amor é ?

Atado à decrepitude,

a fantasias destrambelhadas, oh, musa temporã,

quanto mais a nego, mais a quero.

Mexe comigo como uma miragem aos sentidos.

Me faço de cego,

vira-e-mexe mando-a às favas,

mas como fugir ao frenesi da carne,

ao fogo frio da paixão que não envelhece ?

O amor de um homem velho desconhece

sua própria magnitude.



domingo, 27 de outubro de 2024


                    os vermes do esquecimento



o sol frenético escapa pelas frestas,

enquanto lá fora 

meus próprios pés me pisoteiam.


na brancura dos dias, o que eu

sei sobre a alheia bravura ?

apalpo a memória

funestamente perfeita

sem me encontrar.


nesse exato momento alguém lembra

de mim como falésias à deriva.

o ludíbrio engorda os vermes

do esquecimento.

de tudo isso que sou,

não sobrou nada.




                    amor sem fim



do alto do meu eremitério

um amor sem fim 

supre

o compassivo e ardente coração.


a vida dá e tira, bem o sei, 

"os tristes e alegres sofrimentos da gente"

(João Guimarães Rosa).


meu amor sem fim partiu

mas não o que representou.

nunca acaba o que vive

eternamente dentro de nós.



quinta-feira, 24 de outubro de 2024


                   gente ordinária




 


Ninguém é culpado de ser o que é.

Você não tem culpa de ser o que é.

Eu não tenho culpa de ser o que sou.

Somos o que somos.

Desgraçados, filhos da puta,  o que for.


Rostos são máscaras.

Palavras são disfarces.

Nossas ações são urdiduras de mentes doentias.

A normalidade é apenas pensada mas não real.

O que existe transcende a diáfana realidade.

O ignorado vive em nós, morrendo.

Pensar e sentir acalenta a suave fuga dos ergástulos.


A vida é um jugo que caminha a passos lentos

e confusos.

Tendo o irrefletido como fiel escudeiro.

Não há como evitar os enganos e desencantos.

Cada um tem o amor que merece.

Gente ordinária não sofre, finge.

A desdita alheia não nos diz respeito.

Histórias infames banalizam o sofrimento.

Viver sem gozo nem dor 

é o pior dos castigos.


 




sábado, 19 de outubro de 2024



                      minha história





Sendo assim,

autêntico e banal,

a transmutação se processa

sem saudades nem pressa. 

Antes tarde do que cedo, conheci o filho inédito,

o livro pródigo.

Os anos não me trouxeram

nada

além de acertos crivados de erros.

Quem julga o que não vê

se recusa a ver com os próprios olhos.

A vida ensina a fazer do ordinário

algo extraordinário, 

mas poucos conseguem.

Cultivo meu jardim sem flores 

permitindo-me 

resgatar a solidão que edifica.

Preencho-me de vazios para escrever 

minha história.





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