domingo, 12 de março de 2017


                                     
   o fiel da balança





Num dia a gente pensa que é feliz, que está tudo bem,

e que há muito mais à agradecer do que pedir.
No outro vê que não é nada disso, que tudo é ilusório,
e que a vida é a merda de sempre.

Num dia a gente se sente animado e esperançoso,
feliz como pinto no lixo com as migalhas que 
a vida proporciona.
No outro você cai na real e vê que tudo é frágil e precário,
e que o fiel da balança tem uma mórbida propensão
ao malogro.

Num dia a gente se sente alegre e em paz,
com a alma leve diante do brilho radiante do sol,
do sorriso inocente de uma criança.
No outro, as rotineiras decepções e sacanagens 
botam as coisas em seus devidos lugares.

Num dia a gente se sente forte e abençoado
por ter pelo que lutar,
um amor verdadeiro, filhos queridos, o ganha-pão que dá
para o sustento.
No outro, o castelo de cartas desmorona, e as armadilhas 
do cotidiano escancaram a face dolorosa das relações 
dilapidadas pelo tempo.

Num dia a sensação de que, apesar de tudo, 
os sacrifícios valeram a pena,
que o mais importante é a consciência tranquila,
por ter feito o que julgava justo e correto.
No outro, a amarga constatação de que nada satisfaz
as expectativas e exigências de pessoas 
que só te dão valor pelo que podes proporcionar.










SET. DE 2002 

sábado, 11 de março de 2017




                            AFORISMO REVISTOS



Quem espera sempre alcança, mas está sujeito 
a morrer antes. Ainda mais se depender da ajuda 
dos outros.

           Divagar se vai ao longe, devagar nem sempre.

Em terra de cego, quem tem um olho entra para a política.

          O bom filho à casa toma, e põem os pais no asilo.

A ocasião faz o ladrão, e vice-versa.

          Errar é humano; persistir no erro também.

Falar é fácil, fazer a gente deixa para depois.

          Deus ajuda a quem cedo madruga, noves fora os notívagos 
e os que sofrem de insônia. 


O pior cego é o que vê mas não entende.     

          A mentira tem pernas curtas, mas usa pernas de pau. 

Os últimos serão os primeiros, desde que os demais desistam.

          A pressa é inimiga da perfeição, e da ejaculação.

Águas passadas não movem moinhos, mas provocam redemoinhos.

          Quem quer faz, quem não quer, enrola.

Nada como um dia após o outro, ainda mais não tendo opções

           A esperança é a última que morre, mas não sai da UTI.

Para um bom entendedor, as palavras são supérfluas.








                AFORISMOS POLITICAMENTE INCORRETOS  




  

Todos são iguais perante a lei, o problema é que a lei 
não é igual para todos.

Todo mundo tem direito a opinar, menos mal que ouvir é facultativo.

Todo mundo quer ser rico, admirado, famoso
o problema é que a pobreza, a rejeição e o anonimato 
são bem mais fáceis de conseguir.

O amor é infinito enquanto não é posto à prova.

Quem tudo quer, acaba pondo a mão na cumbuca.

O Brasil é o país de um futuro que não chega; mas a conta, sim.

Antigamente, dizia-se que o consolo de ser honesto era poder dormir com a consciência tranquila; hoje, é o de não ser acordado pela Polícia Federal às 6 da matina.

Não se consegue persuadir quem não vale a pena ser persuadido.

Futebol, política e religião não se discute, proclama-se. 

Artistas e celebridades são seres que a gente admira, idolatra, 
até que abrem a boca para emitir opiniões estapafúrdias 
dignas de repulsa.

Era tão correto e íntegro que preferia disfarçar, para não ficar malvisto.

Em tempos de massificação midiática, pensar por conta própria virou um luxo.


Não deixa de ser curioso que os políticos sejam tão criativos
para roubar, saquear e engendrar seus esquemas criminosos, 
e tão sem imaginação quando pegos com a boca na botija. 
Negam tudo, nunca sabem de nada, 
mesmo quando flagrados com maços de dinheiro na cueca, 
e milhões em contas clandestinas na Suiça. 
Só abrem o bico quando não tem mais saída, em delações premiadas quer acabam confirmando tudo aquilo 
e um pouco mais do que vinham desmentindo. 
Ou seja, se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão.




 

domingo, 5 de março de 2017



                

                                  BELO E INSANO  






Como um barquinho de papel em água revolta.
Como uma planta que a chuva rega e o vento fustiga.
Como um inseto tardívago e sua trágica sina de vítima 
e predador.
Como uma flor que desabrocha, encanta e despetala 
num lapso de tempo.
Como um pássaro caído do ninho e abandonado à própria sorte.
Como um fugaz arco-iris no horizonte, depois da chuva.
Como uma estrela cadente, que risca o breu da noite, subitamente.
Assim é nossa precária trajetória.
Assim é a metáfora da vida.
Linda e sofrida.
Perene e cruel.
Breve e misteriosa.
Que só Deus explica.
Se é que Ele exista.
Se é que Ele se importe com nossas provações,
com nossa sorte nesse mundo belo e insano.
Em que o amor e a dor são como unha e carne,
andam lado a lado,
e mudam de lado 
sem que nada possamos fazer.
Além de orar para um Deus que não nos ouve.



















sábado, 4 de março de 2017





                                                           O PATO




O pato desliza, à deriva,
nas águas poluídas do lago.

As carpas roçam suas plumas;
ele, imponente,
me espreita com seu olhar.

Sossegado, surge,
quieto, 
com muito tato, 
esse bicho bonito, o pato.

Mas, cuidado,
descuidado : logo ali,
no aguapé,
vejo, sinistro,
o jacaré ! 

                                 
Curitiba, meados de 1970, num banco do Passeio Público.

















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