quarta-feira, 12 de julho de 2017





Só há uma burrice maior do que achar que entende as mulheres. 
Achar que é mais esperto do que elas.



sábado, 8 de julho de 2017




                  
                            à deriva




As lembranças são para mim como aves de arribação,
que de repente voam para bem longe.
Sei que estão lá, em paisagens que o tempo
recobre de melancolia.
Intactas, pairam como um mundo a parte que transcende 
o esquecimento e arrefece os sentimentos.

Do alto de meu voluntário desterro, tremula 
minha puída bandeira de apátrida.
Não sei o que me espera, não sei o que esperar
agora que meu barco zarpou,
deixando uma vida inteira para trás.
Nada levo na bagagem, a não ser o peso dos meus atos
e a certeza de que, bem ou mal,
fiz o que deveria ter feito.
Há muito tempo.

SET/  2000 
   


  

   




 




sexta-feira, 7 de julho de 2017



                              QUE GRAÇA TEM ?




O que seria da flor sem o labor da abelha 
e do beija-flor ?
Da rosa sem o frescor do orvalho ?
Da floresta sem a majestade da sequoia, 
do cedro, do carvalho ?

O que seria da alvorada sem o trinar da passarada ?
Do rio, sem a piracema, botos cor de rosa ?
Do mar, sem a lua e o vento, a reger o fluxo das marés ? 
Do céu, sem o pano de fundo azul anil ?
Da natureza, sem a flora e a fauna exuberantes ? 
E do homem, o que seria, sem tudo isso 
para usufruir e... destruir. 

De que vale a mão que não afaga ?
Do abraço que não aconchega ?
Do amor que não se doa ?
Dos laços afetivos que não unem ?  

Que graça tem a vida sem pirraças e trapalhadas ?
Sem chegadas e partidas ?
Perdas e recomeços ?

Qual a graça do domingo sem futebol, 
da praia sem sol, sol sem arrebol ?
De criança sem brinquedo,
na adolescência sem paixonites agudas e cagadas
homéricas, que graça há ?


Que graça teria Londres sem fog, a realeza 
e o Big Ben ?
Paris sem a torre Heifel, o Louvre, os canais do Sena ?
O Rio sem o Corcovado, o Cristo Redentor, o Maracanã ?
O Egito sem as pirâmides ?
O Kilimanjaro sem neve, o Saara sem areia ?
O mundo sem coros de pássaros, buquês de nuvens,
bordéis e igrejas ?

Que graça tem a vida sem emoções ?
O amor sem tesão ?
O mundo sem vilões ?
Eu sem você...






  























terça-feira, 4 de julho de 2017



                    MACACOS ME MORDAM




Pensando na morte da bezerra, em madrugadas insones nas quais toda sorte de elucubrações assaltam a mente, sutis como macacos em loja de cristais, por mais que tente racionalizar e me policiar, não tem jeito : as coisas sempre parecem mais sombrias, os questionamentos implacáveis, as preocupações mais fundas.

Menos mal, penso eu, que me atormentem mais os desafios futuros do que as águas passadas. Por exemplo, se vou ter capacidade, condições e saúde para tocar a vida e concretizar os projetos pendentes. 
Não que tenha deletado as coisas passadas, longe disso, não canso de dizer que encaro as lembranças como meu bem mais precioso, graças a memória seletiva que me permite manter a saúde mental em dia.    
No mais, me considero um cara sortudo por ter contado com o suporte da família para segurar a barra nas horas difíceis, nos malogros e maluquices que pavimentaram minha inglória jornada nas quebradas desse mundaréu, como dizia nosso esquecido e subestimado Plínio Marcos. 
Uma família que, a contragosto e para meu desgosto, na prática se reduziu drasticamente no decurso dos anos.

Mas não me queixo. Mesmo o que não logrei obter no sentido material, foi largamente compensado pelas dádivas que ainda hoje usufruo. Escorado na doce ilusão de que nem tudo na vida é finito, me consola o fato de que as coisas que sempre me foram tão caras, mesmo reduzidas a mera sombra do que foram, continuam a ocupar lugar cativo em meu coração. Com a salutar diferença de já não serem condicionantes e obsessivas como antes. 

Já meus filhos, que ironia ! Criei-os com tanta amor e desvelo, e provavelmente se tornaram tão melhores do que eu, que fiquei muito aquém de seus elevados padrões e expectativas. 
Macacos me mordam...  






 

   



   



segunda-feira, 3 de julho de 2017



                          MEL E FEL





Amar sem ser correspondido, que tragédia !
Dar sem nada receber em troca, que sacanagem !
Confiar, ser correto, honesto, que otário...

Sou um pária nesse mundo cão.
Não tenho medo de bandido, nem de cara feia.
Não me surpreendo com falsetas e crocodilagens,
de resto modus vivendi hoje em dia.
Quem não tem estômago que não se estabeleça.
Aliás, nem saia de casa.
Sou casca de ferida, unha de cavalo.
Não levo desaforo para casa.
Não faço questão de agradar ou posar de bonzinho.
Sou o que sou.
Um fodido nesse mundo cão.

Só tenho medo de mim mesmo.
Dos gestos intempestivos e trensloucados.
Do fogo nas vestes
que inexplicavelmente às vezes ponho.
Do mel e fel que adoçam e amargam meus dias
me levando do céu ao inferno
quando me aconchego em teus braços
e te apunhalo pelas costas...

(ESCRITOS DE ALCOVA, MEADOS DE UM ANO QUALQUER)

sábado, 1 de julho de 2017




                        FANTOCHES TOGADOS




De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo. O conhecido axioma da impagável cartilha de Murfhy parece ter sido inspirado no Brasil. E mais especificamente, nos três poderes constituídos que governam e regem os destinos do país. Digo governam e regem como força de expressão, pois a realidade é que se há algo que essa casta de ratazanas encastelada no poder está longe de fazer, é governar e reger. 
Há anos, quiçá décadas, que a principal ocupação na capital mundial da corrupção e promiscuidade tem sido, engendrar e escamotear os mais variados esquemas de rapinagem lesa-pátria que se possa imaginar. Governar e reger só na base do faz de conta.

Os poucos imbuídos de bons propósitos acabam sendo levados de roldão pela maioria de cleptomaníacos que se perpetuam e se locupletam no poder. Um círculo vicioso que se mantém graças, em parte, a leniência de leis elaboradas em causa própria, mas, sobretudo, pela boa fé, para não dizer ignorância, de parte substancial da população. Que mesmo ludibriada e saqueada, segue defendendo e idolatrando os responsáveis pela sangria desatada que inviabiliza e envergonha o país. 

Sim, pois se protestar contra um governo ilegítimo e igualmente corrupto faz todo o sentido, fazer disso um pretexto para desagravar, ou pior ainda, clamar pela volta de Lula e da praga do petismo, é uma dessas aberrações que sepultam qualquer crença e esperança num possível amadurecimento do país.

Ainda mais que a parte sadia da sociedade, por assim dizer, se limita a assistir passivamente a resiliência com que as forças do mal aos poucos começam a minar as duras, sofridas e heroicas conquistas da Lava-Jato do paladino juiz Sérgio Moro.

Mais do que chocante, é revoltante constatar a diferença de postura de magistrados que em tese, deveriam servir ao mesmo propósito de fazer justiça. Mas não a justiça marota das deliberações claramente dúbias e cavilosas, disfarçadas na retórica empolada e confusa que nos habituamos ouvir, notadamente dos notórios Gilmar Mendes e Marco Aurélio Melo. Juízes execrados pela opinião pública pelo retrospecto de decisões questionáveis, quando não no aspecto legal, no âmbito da decência e moralidade.

Que chegam a causar asco pelo descaso para com o chamado clamor popular. Voz que a própria presidente da Suprema Corte, Cármen Lúcia, exortou, em meio às últimas burlescas sessões, que não fosse ignorada pela casa que preside. Mas para o qual os notórios chicaneiros Marco Aurélio, Mendes e o próprio Fachin - que autorizou o homem da mala Loures a trocar o xadrez pelo conforto da prisão domiciliar  -, demonstram estar pouco cagando.

Personagens, enfim, que diferentemente do paranaense Moro, passam para a história como verdadeiros fantoches transvestidos de juízes.        

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