sexta-feira, 8 de setembro de 2017

PASSE LIVRE





Tudo na vida tem seu tempo. 
Até mesmo para dar um tempo.
Para pensar. Repensar. Inventariar.
Atinar com o que fez de certo e de errado. 
O que deu certo e o que não deu. 
Mesmo porque, afora a morte, nada é certo.
Mesmo porque o certo pode dar errado. E vice-versa.

Dar um tempo pode ser bom
Para respirar outros ares
Experimentar novas e velhas sensações
Dar um tempo de tudo
De fazer sempre as mesmas coisas
De buscas sonhos e esperanças onde não há
Dar um tempo para se redescobrir, ou melhor ainda
Se reinventar
Se livrar de antigos fardos
Ideais, responsabilidades.
Da felicidade enganosa que sufoca
E pesa o peso do mundo
Pelo que exige em troca
Posto que intrinsecamente efêmera

Dar um tempo para ver o mundo 
Ainda que seja só para tirar a cisma
E que suspeito ser o secreto desejo que acalentas
Mas que te falta coragem para propor
Dar e receber o passe livre
Liberdade ainda que tardia
Antes que tardia...










               SÓ SEI QUE NADA SEI


Não sei se volto para casa
Ou se encho a cara
Se sumo do mapa
Ou imploro teu perdão
Se rastejo no chão
Ou mando tudo às favas

Não sei se tenho forças para reagir
E seguir em frente 
Ser paciente e resiliente 
Ou deixo o barco zarpar
Sem olhar para trás

Não sei que rumo tomar
Se espero o vendaval passar
Ou junto os cacos
Enfio a viola no saco
E vou desafinar n´outro lugar.

Não sei, não sei, não sei.

Há tempos que me apraz ficar
Outras de debandar
Há dias em que me sinto nas nuvens
Outros à beira do abismo
Há vezes em que me sinto no paraíso
Outras vezes no quinto dos infernos...















RENÚNCIA

Lamento pelo que não fomos
Sinto falta do que não tivemos
Sofro pela dor que nos causamos
Procuro uma maneira de compensar
A tua perda
A minha renúncia
A nossa desistência

Meados de janeiro /2000

quinta-feira, 7 de setembro de 2017



                                   FIO DE AÇO 



Penso que o Brasil está tão ferrado que nem os generais se animam a botar a casa em ordem. Talvez porque intervenções militares estejam fora de moda; talvez por não terem a mesma têmpera dos generais que botaram ordem na casa em 1964; mas, muito provavelmente, por estarem entre as tais categorias que não tem do que se queixar, em termos de remuneração e regalias.

Sem poder contar com os milicos, o único instrumento que resta ao país para enfrentar o regime de ilicitudes entronizado nos 12 anos de governança petista é o Poder Judiciário, responsável pelo cumprimento das leis e da preservação do estado de Direito.
Não há outro caminho. Todas as demais alternativas inerentes a práxis democrática já se mostraram ineficientes, inócuas, incapazes de reverter o quatro de putrefação político-governamental vigente. Entre as quais, o virtual conto do vigário de um modelo eleitoral viciado, manipulado e, que ninguém duvide, adulterado, a julgar pelos inúmeros indícios já veiculados sobre possíveis fraudes em nosso sistema eletrônico de votação.

Desgraçadamente, porém, tampouco o judiciário brasileiro de um modo geral tem se mostrado à altura de seu papel de guardião da legalidade e moralidade. Muito pelo contrário. O que não tem faltado, em tribunais de todas as comarcas e instâncias, são exemplos de arbitrariedade, arrogância, prepotência e bizarrices jurídicas escandalosas, sem falar da politização explícita de manjadas figuras do STF.

O que esperar de uma Suprema Corte em que pontificam juízes useiros e vezeiros em livrar a cara dos meliantes mais notórios ? Como costumam fazer os sacripantas Marco Aurélio Melo e Gilmar Mendes, que além da peculiar empáfia, mantém estreitas relações com a mais fina flor da bandidagem política. A exemplo de outros não menos manjados colegas de toga, como Dias Tófoli, Ricardo Lewandowski e o próprio Edson Fachin, de sabidas ligações com o petismo.

Já à ala moderada, como a própria ministra Cármen Lúcia, presidente da casa, falta coragem e liderança para tomar frente e agilizar as ações em curso. Não só da Laja-Jato como em relação as inúmeras outras denúncias que tramitam em banho maria contra políticos implicados nos esquemas de corrupção. As dezenas de ações ajuizadas e postergadas contra Renan Calheiros e Romero Jucá pairam como um escárnio ao povo e depõe contra a própria mambembe justiça do país.

Sobra, neste salseiro, as atuações isoladas de alguns juízes honrados como Sérgio Moro e Marcelo Bretas, que juntamente com o MPF, tem servido de inspiração para outros da mesma estirpe e mantido um mínimo de esperança num futuro melhor para o país. Um fio de esperança mas um fio de aço, pois respaldado nos anseios de uma sociedade cansada de espoliação, de ver o mal triunfar.

domingo, 3 de setembro de 2017


                Besta

Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu sou uma besta
Eu
Sou
Uma
Besta
Eu
     Sou
           Uma
                  Besta
                  Eu
            Sou
      Uma
Besta

sábado, 2 de setembro de 2017


                CRESCEU, PERDEU



O homem não é o que aparenta.
Só uma criança é o que aparenta.
O homem é um fingidor nato, dissimulado e ingrato.
É o avesso de si mesmo, lobo em pele de cordeiro.
Prisioneiro de idiossincrasias insuspeitas e inconfessáveis.
Aquele sujeito, quem diria, aparentemente tão gente boa,
e no entanto, um energúmeno, um vigarista, um facínora...

Quem, afinal, o homem ?
O que melhor o define ?
Ao mesmo tempo altruísta e embusteiro, 
vítima e algoz.
Lúdico e lúbrico.
Mecenas e trapaceiro.
Ou nenhuma coisa nem outra.
Na superfície uma coisa,
no íntimo, libertino, pedófilo, psicopata...
Ser tantas coisas e nenhuma,
viver escondendo a verdadeira face,
és um homem ou um camaleão ? 

E para quê ? Por que ? 
Para não ser julgado, não ser crucificado
num mundo feito de convenções.
De regras, mordaças, camisas de força.
O mundo é um teatro, em que todos fingem 
ser o que não são.
Querem ser o que não são.
Fazem qualquer coisa para chamar a atenção.
Capricham na indumentária, mutilam o corpo.
Nenhum homem é o que parece ser.
Ninguém tem o direito de julgar ninguém.
Só a criança é o que é.
Até ser contagiada pela maldade
inoculada pelo bicho-homem...
Porque, cresceu, virou adulto, perdeu...







  

sexta-feira, 1 de setembro de 2017


                                   VIDA VADIA





Vai, vida vadia, nada mais espero de ti 
senão as falsetas e ciladas de sempre.
De sonhos e esperanças abjurei.
A armadura e a espada empenhei. 
Lutar com palavras é o que me resta. 
É o que me basta. 
Ainda que em vão. 
Escrevo versos, mas a complexidade do mundo
não cabe nessas estrofes canhestras.
Me faltam palavras para expressar 
o que me atormenta a alma.
A razão desse permanente desassossego. 

Meu pensar é como um navio que passa
ao largo, rumando sabe-se lá para onde.
Levando à bordo sabe-se lá o quê.
Mistérios ? Verdades ? O que importa ?
A vida segue seu curso inexoravelmente,
até sumir no nada.    
Entorpecida pela cota diária de barbáries e sacanagens.







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