sexta-feira, 13 de outubro de 2017




                           a autofagia do tempo






Ninguém nos ensina a lidar com o intangível.
A harmonizar a via passada e a presente.
Conciliar o que fomos e o que somos, no afã de mudar.
Se para melhor ou pior, é que o bicho pega.
Por implicar em conviver com estragos causados 
por decisões impensadas ou precipitadas.
Mormente na chamada flor da idade.
Quando a falta de discernimento costuma sair caro.

Ninguém nos ensina a lidar com a cota
de perdas e sofrimentos causados 
por equívocos e opções infelizes. 
Que mudam e desgraçam a vida para sempre.
Que tristeza ver tantas coisas que tínhamos 
como certas e justas, reduzidas a desatinos, decepções. 
Abortadas no interstício da vida desejada.
Devoradas pela autofagia do tempo.




  



                        À LUZ DA RAZÃO








À luz da razão, nada mais espero da vida.
Nada mais de especial almejo.
Apenas forças e saúde para seguir em frente. 
Fazer o que gosto, continuar na labuta.
E se não for pedir muito,
um resquício de reconhecimento e gratidão.
Ainda em vida.
Posto que depois que tudo acaba,
tudo acaba.
Nada  mais importa.
Lembranças, remorsos, saudades, são para os que ficam.
Não remediam nem compensam o que em vida foi sonegado.
O que não foi dito.
O abraço que não foi dado.
Não redime o amor sufocado pelo egoísmo.
O afeto que se ausentou quando mais necessário.

Quando chegar minha hora,
não quero o remorso tardio de quem 
me matou por dentro.
De quem me excluiu em vida,
por razões que a própria razão desconhece.







sábado, 7 de outubro de 2017




A NOVA (DES)ORDEM MUNDIAL





É notório que há sentimentos e valores morais que estão caindo em desuso, em detrimentos de outros, em franca ascensão. A má notícia é que essa troca está longe de ser benéfica ou vantajosa para a humanidade, contrariando ou no mínimo colocando em xeque o ciclo evolutivo natural, com a dicotomia entre conciliar o desenvolvimento tecnológico e o comportamental. 

Atributos como integridade, honestidade, ética, senso de justiça, sinceridade,  e demais virtudes que compõem os padrões comportamentais individuais e coletivos, virtuais marcos demarcatórios da civilização ocidental, e cujos fundamentos remontam a 5 ou 6 séculos A.C., a Grécia de Platão, Sócrates, Aristóteles e outros menos votados, entraram em súbito e preocupante declínio, desprestígio.  

Basta observar em volta para constatar que vivemos um desses períodos de grande mutação no ranking dos valores e sentimentos. Talvez um esboço de passagem da era pós-moderna à tecnotrônica, formulada por um certo Zbigniew Brzezinski (guardem esse nome trava-língua), cientista político e geopolítico recentemente falecido (1928/maio de 2017), que serviu como conselheiro de Segurança Nacional dos EUA no governo de Jimmy Carter, entre 1977 à 1981, e se notabilizou pelas proféticas teorias de controle da sociedade através de aparatos tecnológicos.

Sem a fama e a respeitabilidade de outros gurus futuristas como Orwell, McLuham e Huxley, as previsões do ultra-nacionalista Zbigniew, expostas em seu livro Between Two Ages : America`s Role In The Technotronic Era (Entre Duas Idades : O Papel da América na Era Tecnotrônica)  são ainda mais impressionantes por remontarem a 40 anos atrás, quando nem se sonhava em internet, celulares, smartphones e mídias sociais. Articulador de planos para uma nova ordem mundial, ele enfatizava o uso da informação massiva como instrumento de controle social e hegemônico, cenário perfeitamente delineado hoje em dia pelo virtual controle da sociedade pelo Estado através dos aparatos tecnológicos. 

Mas as incursões futuristas do controvertido Z.B. vão bem mais longe, ao antever o próprio desdobramento da guerra fria no ambiente cibernético, de controle e manipulação da informação. Tal qual se viu na já comprovada influência de hackers russos nas eleições norte-americanas, e no próprio uso abusivo das mídias digitais como arma intimidatória por bufões como o presidente norte-americano Trump.

Vislumbrando já então a impossibilidade de vencer os inimigos no campo militar, algo inviável na era nuclear, por implicar em destruição mútua, ele antecipava na década de 70 a necessidade do controle social e político por parte do Estado, a ponto de estabelecer um domínio sobre o indivíduo, pelo acesso a todo tipo de informações pessoais.Algo já perfeitamente perceptível no contexto da chamada blogosfera, em que praticamente toda a população mundial está inserida, cooptada pelos grandes irmãos, Google e Facebook. 

Subestimado à época por prescrever teses que configurariam uma espécie de ditadura tecnológica, ou tecnotrônica, para usar o termo de sua paternidade, Z.B. acabou sendo demonizado ao incluir a manipulação genética como recurso extremo do Estado para o controle do individuo. O que acabou lhe valendo a ira de setores mais conservadores, como a maçonaria e o próprio clero, avessos às motivações segregacionistas e radicais da tal nova ordem mundial com o timbre do antigo movimento conhecido como illuminati.

Exagerado ou não, o fato é que a mentalidade reinante não está muito distante do mundo sombrio previsto por Z.B., com a crescente dependência da parafernália tecnológica e suas consequências nocivas, como a massificação de costumes, a disseminação de conteúdo duvidoso e o controle total do Estado sobre o indivíduo. 
Preocupa, sobretudo, a propagação de desvios comportamentais que acabam servindo de estímulos para mentes degeneradas, cuja escalada de atrocidades em voga parece fazer parte de alguma competição do mal.

Um estado crítico de coisas sem dúvida associado ao tal intercambiamento de valores morais oriundos da ditadura tecnológica e digital preconizada por Zbigniew. Cujos sintomas de certa forma explicam a onda conservacionista e nacionalista que cresce no planeta como autodefesa contra os efeitos deletérios da nova ordem mundial. Que ao invés de ajudar a resolver os problemas do planeta, mais os agravam, de modo a colocar em dúvidas o próprio futuro da humanidade. Seja por sua inarredável vocação beligerante ou pelo descaso com o próprio habitat, cujas sinais de saturação saltam aos olhos. 

Seja como for, a impressão é que nunca estivemos tão à deriva, tão teúdos e manteúdos de recursos tecnológicos cujos efeitos colaterais nos reduzem a condição de meros usuários ou serviçais do sistema. Ou pior ainda : lacaios de movimentos e lideranças messiânicas que se beneficiam da ignorância e doutrinação ideológica para subverter o próprio conceito de justiça. 
     
"A história da humanidade é um processo contínuo de transformações de valores. É evidente que o tempo que vivemos se caracteriza pelo desaparecimento de valores tradicionais, sem que apareçam, de uma forma clara, valores novos capazes se substitui-los." (José Saramago)   



       



   




sexta-feira, 6 de outubro de 2017

                MALUCOS DE PLANTÃO






A loucura do mundo é contagiosa. E o pior é que não há antídotos confiáveis, capazes de por freio e limites à insanidade que grassa. Degenerados de toda espécie, que matam à sangue frio, que roubam, ejaculam em ônibus,  ladrões transvestidos de políticos, pseudo-vanguardistas que confundem pornografia com arte, 
pedófilos de batina, malucos investidos de chefe de estado, ditadores, eis o basfond que deita e rola hoje em dia.

Leis, religião, princípios, nada mais parece funcionar e inibir a esbórnia reinante. Em todos os cantos, a qualquer momento, toda a sorte de ignomínias se repetem como se fora uma praga incontrolável. A ponto de o anormal parecer cada vez mais normal. E vice-versa. Pois quem ainda prima pela ordem e moralidade, anda na lei e clama por justiça, ou faz papel de bobo ou é tachado de reacionário, coxinha, elitista, e por aí afora. 

Nessa toada, ódio e desavenças se disseminam sob os pretextos idiotas de sempre. Preconceitos, xenofobia, homofobia, camuflados pelas eternas tretas políticas e étnico-religiosas que tem desgraçado o planeta desde prismas eras. Imbecilidades que não conhecem limites nem se rendem ao lugar comum das normas e convenções, e muito menos de civilidade. 

Entre os quais, o presidente da nação mais poderosa do planeta, que fala e age - menos mal que mais o primeiro do que o segundo -  como se sofresse de graves distúrbios mentais e paranoicos, tal a propensão a criar confusão e colecionar diatribes. Devidamente secundado por outros porra-loucas como o ditador norte-coreano e o enigmático Putim, que não engana ninguém com seu sorrisinho de Monalisa. 

Com o planeta à mercê quando não de lunáticos francamente beligerantes, de refinados charlatães e trambiqueiros, especialmente ativos em nosso país, não é à toa que insanidades e tramoias de toda espécie se propaguem aos borbotões. Afinal, malucos inspiram malucos. Transgressões levam à transgressões. E os bons pagando pelos maus, como nessas recorrentes tragédias no país mais poderoso e desenvolvido do mundo, mas que não obstante sua riqueza se tornou refém da própria fria e calculista lógica capitalista. Que tem no comércio de armas uma de suas fontes mais lucrativas. 

Reverter esse quadro é o desafio que se impõem, e a meta inalcançável proposta e reiterada a cada nova tragédia. Inalcançável sim, posto que intrinsecamente associada a realidade de um planeta cingido pela desigualdade, discriminação e injustiça. Ou seja, um planeta sem conserto, em que só nos cabe fazer nossa parte e torcer para não tropeçar em algum maluco de plantão. Não estar no lugar errado, na hora errada.     




quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Quando O Amor Acontece - João Bosco





                     PEGAR OU LARGAR







O mundo seria perfeito se pudéssemos viver sempre numa boa, curtir as coisas que valem a pena, sem culpas e ressentimentos. Usufruir do dinheiro e da fama, ou simplesmente daqueles momentos mágicos que gostaríamos que nunca acabassem. Mas como a vida está longe de ser sequer amistosa, nem a opulência e a fartura são garantia de felicidade. 

Evidentemente, dispor de recursos e dotes é uma baita mão na roda, sejam eles materiais, artísticos, intelectuais. Mas nada é duradouro, permanente. Quando não é a cabeça, é alguma doença, um acidente, e a vida vira do avesso.  Pois nada é para sempre.

Primeiro, porque basicamente a vida é um jogo de perde e ganha, um campeonato de pontos corridos à Brasileirão. Em que ora se briga pela ponta, ora se está caindo pelas tabelas. 
Segundo, porque não fomos programados para sermos felizes. Felicidade é um estado de espírito, contingência. Pode mudar ao sabor do vento e da maré. 

O indivíduo normal está sempre se equilibrando na corda bamba da existência. Administrando as coisas na moral ou no tranco. Quase sempre no tranco. Fazendo concessões, fazendo o que não gosta, engolindo sapos e desaforos, em meio a um mundo de contas e obrigações. Um monte de gente cobrando e sugando, e ninguém para reconhecer, agradecer, te dar o devido valor.

Pois assim é a vida. Sacana, traiçoeira, cobra caro, caríssimo por qualquer coisa que se venha obter. Mesmo para aqueles que parecem aquinhoados pela sorte, eleitos pelos deuses, a barra às vezes pesa e as coisas desandam, pois o luxo e a luxúria andam de mãos dadas.

A vida dá com uma mão e tira com a outra. O que ela nos dá não tem preço. Mas o que nos tira, idem. Negociar com ela é tudo que nos resta. Uma negociação difícil, no mais das vezes ingrata e injusta, em condições geralmente adversas, mas é pegar ou largar. É ir à luta ou ficar na tocaia. 





quarta-feira, 4 de outubro de 2017



                                        SIMULACROS





O que fazer quando não há mais nada a fazer ?
Nada que dê jeito, que conserte  
o que não tem conserto, o que não tem remédio ?

O que dizer quando as palavras já não surtem efeito,
quando não convencem e sequer contemporizam,
tão rotas e esfarrapadas que nem juras adiantam ?

O que dizer quando não há mais nada a dizer,
que soe minimamente convincente,
findos todos os argumentos razoavelmente críveis,
que sequer mereçam o benefício da dúvida ?

O que esperar quando não há nada mais
a esperar, que valha a pena esperar,
esgotadas todas as tentativas,
queimados todos os cartuchos ?

Nada, é a resposta para tudo.
Nada fazer, nada dizer, nada esperar.
Nada além de dar um tempo para o coração 
se refazer 
dos velhos simulacros do estoicismo.






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