quarta-feira, 31 de janeiro de 2018





                         semeando ventos




Ventos lumpaciosos irrompem intermitentes
Sopram zéfiros, alísios, lufadas sincopadas
Repentinamente encorpadas
Em monções torrenciais, tempestades tropicais
É imperioso se precaver
Me acuda anjo Castiel
Dos infortúnios que se sucedem, banzeiros
Desgraça pouca é bobagem  
Ajayô, meu pai, meu santo protetor !
Desenrascanço que me desenrasca 
Com a possança dos espíritos fluídos
Sabajos, mandingas, sortilégios passem ao largo
De abacués recalcitrantes, assomos maléficos me livrem
Vade retro, satanás ! 
Trago o corpo fechado, o punho cerrado  
Invólucro hermético e indevassável
Homizio da alma imbricado na infinita
Complexidade das coisas
Saravá Oxalá, Ogum, babalorixás 
Santo Expedito das causas impossíveis
Protejam-me dos perigos do mundo 
De semear ventos e colher tempestades.   



  





terça-feira, 30 de janeiro de 2018

                                  FATUIDADE





Por que às vezes 
me sinto tão estupidamente feliz,
tão bestamente em paz comigo,
e de bem com a vida,
se a felicidade é tão efêmera
e há tantos lapsos de consciência 
a considerar ?




                          morto-vivo

            

Quem me salvará de mim mesmo ?
Quem me estenderá a mão quando eu estiver 
no chão ?
Quem me acudirá quando a hora morta chegar,
no interstício da jornada.
Em que só reste o bagaço,
a sombra melancólica do que fui dia ?

Quem olhará por mim quando já ninguém 
me enxergar ?
Invisível no mundo dos vivos.
Sem nada para dar, sem nada para compartilhar.
A não ser o fardo inútil de lembranças,
que já nada representam, nada acrescentam.
  
Não havendo recompensa para a virtude,
nem castigo injusto para o pecado,
só o que almejo é não ser um morto-vivo 
em meio a fatuidade trágica da vida. 






              FERIDAS



Feridas que não cicatrizam nos fustigam vida afora
Não sangram, mas doem na alma 
Não machucam, mas corroem as entranhas
Transtornando a vida
Imiscuindo-se nos pensamentos
Minando os sentimentos
A despeito do tardio arrependimento
Do sofrimento que não redime
Da redenção que não consola 
Posto que nada expia a culpa
Daquilo que não se tem culpa
Do que de cura não carece
As feridas que nos auto-infligimos.   



             ESCAMBO



Você já não me vê como antes
Eu já não te vejo como antes
Perdemos o brilho
Foi-se o encantamento
No entanto, continuamos os mesmos
Nada se perde, tudo se transforma
Perde-se aqui, ganha-se ali
A vida é um permanente escambo.






segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O EXEMPLO DE QUÍRON 
      



                                 
Coração exaurido, empedernido,
quixotescamente destemido,
tendo se tornado com o tempo mais ponderado 
e maduro, 
pensei fazer-lhe um favor ao deixá-lo em paz.  
Mas eis que, ao contrário,
como um cavalo alado, centauro desgarrado,
ao invés de aquietar-se,
engendra quimeras e fantasias
como os sonhos de um doente.

Assim como o corpo cansado 
padece com os fardos da vida,
a alma também se verga diante do peso
das aspirações e paixões 
que já não consegue carregar.
Todos os dias nos conduzem a morte.
O último passo ao cadafalso
é apenas questão de tempo.
Há os que, de pavor, antecipam a mão do carrasco
e morrem aos poucos quando abdicam de viver.
Outros tratam de tirar proveito enquanto podem,
sem preocupações demasiadas,
cientes de que cada dia é igual a outro qualquer,
até deixar de ser.

O mesmo sol, a mesma lua, as mesmas estrelas
que nos contemplam desde os primórdios,
é que permanecem,
independentemente do que fomos,
do que fizemos.
Coisas boas ou más 
Tudo perece e renasce. Parte e se refaz.
O sentido da vida não está na extensão,
mas em sua essência.
De nada vale viver muito e nada fazer.
Mirem-se no exemplo de Quíron,
que recusou a imortalidade 
em troca de um legado nobre.


e uma morte tranquila. 






quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

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