quarta-feira, 25 de maio de 2022



                        o maior dos enganos





Meu breviário de desatinos fulmina a ideia de querer

sem forte. 

Meus versos semeiam a terra de tijolos. 

Busco os contornos dos vazios, meine nacht ist meine licht. 

A estética do fracasso me anima.

No fundo, o inimigo é quem melhor nos entende.

Não estranhe que uma pessoa que se mostra superior, 

não passe de um embuste.

Tudo aquilo que não amamos ou deixamos de amar 

acaba sendo decorativo, descartável.

Morrer tragicamente dá dignidade a vida, mas não nos redime. 

O mistério impenetrável das coisas é o pó da estrada em que

conhecimento nenhum é suficiente.

Abster-se da ingênua crença no amor, eis o mote.  

Tudo somado, vivi apenas para aprender o óbvio.

Que ninguém é de ninguém, e o maior dos enganos

é achar que ao outro conhece.






  








 

domingo, 15 de maio de 2022



              alguém lá em cima gosta de mim





Não me perdoo por ter amado do jeito

desmazelado que te amei.

Não me perdoo por ter demorado tanto à cair na real.

Não me perdoo por ter me humilhando, 

deixado que me humilhasse.

Ao me expulsar de casa, me pintado de vilão.

Enquanto já se deitava com outro.


Não me perdoo por ter ignorado as evidências.

Ter deixado tua versão prevalecer durante todo esse tempo.

Não me conformo por ter aceitado carregar 

passivamente essa cruz. 

Enquanto você se divertia às minhas custas.


Mas alguém lá em cima gosta de mim

e se encarregou de por tudo em pratos limpos.

Pegou pesado, fez você pagar com juros.

Descanse em paz, se puder.







 




                  Por quem eu sofro





Sofro de borboletas que não ferem ninguém.

Sofro do que punge fundo.

Sofro do aroma que vem de longe.

Sofro de arrepios, rumorejos, gorjeios empassarados

de sol.

Sofro de brisas embaraçadas de luzes matinais.

Sofro de coisas calmas, de silêncios sem porto,

de rostos consumidos por azinhavre. 

Sofro de perdas, incrustações, lápides que a terra a de comer.

Sofro de livros, versos, andorinhas sem escamas.

Sofro de gente comida pelo lodo, anêmonas, espantalhos.

Sofro de coisas que não levam a nada.

Sofro de esconder-me nas palavras para decifrar o que não sei.

Sofro de andar às cegas, sonhos sem prateleiras, 

saudades do que não vivi.

Ah, sim, sofro de insônia, mas isso é o de menos.





 




 



 

 



Sou um camaleão que finge ser eu.



               A vasta extensão de mim

               é um terreno fértil de besteiras. 


Como já diz o jurisconsulto de chão, Manoel de Barros,

seja árvore, ao invés de parede.


             Ninguém faz um poema que preste

             sem conhecer ignomínias e antros.

             Sem fazer do inominado, do insignificante,

             raiz do seu canto.


Poesia é arte não dizer nada, dizendo tudo.

 






               

segunda-feira, 9 de maio de 2022



                     integridade





Meu maior erro foi achar que te conhecia.

Fui além da confiança. 

Mesmo diante de todas as evidências,

dos maiores desaforos, 

nunca duvidei de tua integridade.

Quebrei a cara.

E nem posso te culpar.

Quem manda ser burro!
































                              

                 superação



         


Descobrir forças onde não há. 

Sem que reste qualquer esperanças.

Sem conseguir de novo confiar.

Sem qualquer ilusão, nenhum alento,

descrente de tudo.

E sem nem saber por quê e como, 

soerguer-se no extremo da condição humana. 

E amar o perdido. 








sábado, 7 de maio de 2022




                  por alguns breves momentos





Sim, o mundo pode ser perfeito

Por alguns breves momentos, o mundo pode ser perfeito.

Momentos perfeitos, em que se perde a noção do tempo, 

e tudo mais desaparece. 

Você sabe.

Você sabe.

Puxe pela memória,

vale a pena lembrar.

Ainda que não tenha durado.

Que não faça mais sentido.

O amor conspurcado, corrompido.

Mas que um dia fez o mundo parecer perfeito.

Por alguns breves momentos.






 

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