domingo, 15 de maio de 2022




                  Por quem eu sofro





Sofro de borboletas que não ferem ninguém.

Sofro do que punge fundo.

Sofro do aroma que vem de longe.

Sofro de arrepios, rumorejos, gorjeios empassarados

de sol.

Sofro de brisas embaraçadas de luzes matinais.

Sofro de coisas calmas, de silêncios sem porto,

de rostos consumidos por azinhavre. 

Sofro de perdas, incrustações, lápides que a terra a de comer.

Sofro de livros, versos, andorinhas sem escamas.

Sofro de gente comida pelo lodo, anêmonas, espantalhos.

Sofro de coisas que não levam a nada.

Sofro de esconder-me nas palavras para decifrar o que não sei.

Sofro de andar às cegas, sonhos sem prateleiras, 

saudades do que não vivi.

Ah, sim, sofro de insônia, mas isso é o de menos.





 




 



 

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