sábado, 25 de novembro de 2023



                    

                 sabedoria





Cansei de procurar respostas.

As respostas que me procurem.

Resigno-me em não fazer mais apostas.

Dúvidas e incertezas, que o diabo as carreguem !


Já fui feliz mesmo não sendo.

Ungido por secreta proteção divina.

Vivi como se não houvesse amanhã. 

Ouvindo mais o coração do que a razão.



Agora que os novos e os antigos dias se misturam,

e já não há como recuperar o que foi perdido,

trato de desfrutar o que ainda vale a pena ser vivido.

Valorizar as dádivas que os novos tempos entesouram.



Assim, digo adeus para quem fui.

Sem deixar de ser o que sou.

Aquele que amou mas não se doou.

E que hoje colhe o que plantou.


O que fiz está feito.

Não há como remediar.

"Sabedoria ! Sabedoria !

Só te encontrei nos abismos",

já disse por mim a douta Cecília.




























                 inumanos





O tempo de adivinhações e presságios abriga 

deuses terríveis.

A fúria dos dias imita as raízes sob a terra, à procura da luz 

que as verbenas inflamam.

Do homem que se condói, o amor não se desprende.

Para que se torne algo maior, alheio ao mundo que o vergasta.

Normas mais antigas que os crocodilos do Nilo remontam

a esfinge e ao obelisco das eras.

Guerras são o adubo da terra.

Há soluções e bálsamos para tudo, desde que se

prescinda da razão.

A solidão repartida infecta os porões familiares 

com o desconsolo dos proscritos.

A dualidade que rege o tempo e o espaço desconhece 

o assombro. 

Os profusos sentimentos malogram, confusos.

O que somos transplanta as frágeis mudas de nossas

fraquezas e imperfeições.

Jamais seremos melhores do que somos.

Perseverantes, sonhamos os sonhos improváveis.

Sem futuro, sem perspectivas,

imundos. 

Inumanos. 





 



  




 

terça-feira, 21 de novembro de 2023

sexta-feira, 17 de novembro de 2023



                             navegar é preciso




Questões comezinhas nos tiram do sério.

Entorpecidos, seguimos em meio a almoços rotineiros

e distrações frívolas. 

O smartphone tudo provê.

Gurus de araque e a inteligência artificial

dispensam o raciocínio.

Breve máquinas tomarão conta de tudo, se é que

já não tomaram.

Imbecis jogam roleta virtual e tudo bem.

Espertalhões criam riqueza em sofisticadas 

pirâmides financeiras e tudo bem.

Incongruentes e obtusos, assistimos a tudo impassíveis.

Inútil protestar. Inútil se rebelar.

A vida suspensa dispensa a vida de verdade.

Basta curtir, seguir, compartilhar, sem sair de casa.

Agora como antigamente, "navegar é preciso, 

viver não é preciso."







quinta-feira, 16 de novembro de 2023



                            assim caminha a humanidade





Mais gente

Mais carros

Mais poluição

Mais destruição

Mais conflitos

Mais desigualdade

Mais miséria

Mais discriminação

Mais ignorância

Mais violência

Mais ódio

Mais impostores

Mais hipocrisia

Mais doenças

Mais drogas

Assim caminha a humanidade.










quarta-feira, 15 de novembro de 2023



                 delirante e heróico



Dentro de mim, o tempo que passou permanece

em algum lugar além da memória.

A vida exausta espreita o prometido repouso

como um guerreiro agonizante.

Que já não tem por que lutar.

Das batalhas vencidas e perdidas, só ficaram as feridas. 

Tudo que me era de mais caro se desfez 

ao longo da jornada.

Um lento morrer de belezas letárgicas

consome os sóis necrosados.

Tenaz, a vida abandona-se à sorte que a embosca.

Num epílogo de luzes ilumina-se o envelhecer 

delirante e heróico. 

Por osmose, abranda-se a conflagração das mentiras

e dos melindres.

Contra tudo que a existência deu e levou, eu ainda

guardo a ideia louca de ter sido feliz.




 

 








terça-feira, 14 de novembro de 2023



                              oquidão





Consome-se o amoroso temor que se eleva

além das asas.

Recriando a si próprio em febril diafanidade.

Ah, o impalpável fracasso dos devaneios !

Os astros choram pelo iracundo amor que os embeleza.

Todas as vozes permitem-se auscultar os idiomas

que ferem e mutilam.

Herméticos presságios presumem a dor que não se cria.

Quisera degustar o mel que mascara a grandiosidade

das quimeras.

Entardeceres de fugazes lembranças rondam a oquidão

circundante das lonjuras.

Onde o brusco amanhã repete-se, inédito.

O tempo que aflora amadurece até a incandescência. 

Para que a perfeita crueldade se nutra 

do gozo puro dos algozes.







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