segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024



                    inquietudes





As inquietudes gestam desejos e preocupações.

Ou será o contrário ?

Vivo inquieto nem sei bem por que.

Mesmo quando tudo está calmo, invento torturas, 

rasgo a partitura que seresta os dias melodiosos.  

Do nada, o chão queima-me os pés e frita as certezas

emanadas dos antros da mente.

A inquietude circunda os interesses e lutas da vida 

que bufa e se barafusta sob bençãos e tristezas.

A ansiedade sodomiza medos e angústias.

Mas, a despeito de tudo, é sempre uma insuportável paz 

que obsidia a coragem perpétua. 

O sol quebrado oferece sua esperança corajosa.

Aceito de bom grado.



 

domingo, 11 de fevereiro de 2024



                  pequenas grandes coisas





Passará a dor

Passará o amor

Passará a juventude

Passará o tempo do plantio

Passará o tempo da colheita

Passarão os medos

Já não importarão os segredos

Tudo a terra há de comer.


Morremos em pequenos sorvos sem sentir

Passam os anos lhanos 

Assim como os insanos

Perdura, assim, como um livro a ser lido

Um mar a ser navegado

A vida que é ao mesmo tempo

Esperança e tédio

Doença e remédio.


Mas, ai ! Frente ao fluído inimigo

O inútil duelo jamais se resolve

Naquilo que não foi, nem pôde ser

Sofremos por coisas que existem

Sem existir

Luta o corpo contra o tempo

Pelejas que não pode vencer

Angústias na forja das emoções

Ódio, raiva, ressentimentos, coisas

Que envenenam a vida.


Quantos regalos nos são dados

E não damos valor

Todas as regalias e consentimentos

E não damos valor

Incapazes de ver nas coisas mais simples

Todo seu esplendor.

Ah, mas é apenas uma flor...

Uma manhã ensolarada e tranquila...

Um dia sem dor...

Pequenas grandes coisas que passam despercebidas

Desaprendidos de sentir o gosto da fruta

O cheiro da terra molhada de chuva

Das pequenas partilhas que permeiam

Um mundo amoroso e patético

Contra tudo o que maltrata e definha.


Da morte que nem morte é.















  


domingo, 4 de fevereiro de 2024



                          a espera pelo que não virá





Nada nos pertence, mas tudo queremos.

A espera pelo que não virá é infinita.

A espera do quê mesmo ?

Nem nós sabemos...


Há um momento em que as coisas todas

se resumem em morrer dignamente.

Afinal, até as coisas mais desejadas não duram.

E quando acabam, a sensação de desamparo é inevitável.

Pois o que resta de tudo é menos que pó.

Passamos a maior parte do tempo sonhando acordados

enquanto a vida 

mantém a promessa de felicidade, quebrando-a,

sucessivamente, 

até que tudo se transforme em despojos.







                              o único credo confiável




Abrahão foi um eleito de Deus.

Moisés foi um eleito de Deus.

Rezam as Escrituras que viveram

e morreram sob a proteção divina.

Os demais, sejamos francos, mais penaram

e sofreram do que outra coisa. 

Perseguidos, torturados, mortos, esquartejados,

comidos por leões, quase todos pagaram com a vida

por pregarem a paz e o amor ao próximo.


Ser cristão sempre foi sinônimo de sacrifício e privações.

E tudo pela simples promessa de obter algo tão subjetivo

como a remissão dos pecados e a vida eterna.

Nunca entendi a lógica de sacrificar o próprio filho

por nada, posto que a humanidade continua de mal a pior.

Sem dúvida, é uma bela narrativa.

Pena que sem nenhum sentido e efeito prático.

O homem é mau por natureza, e até os ensinamentos de Cristo

foram e continuam sendo deturpados.

Praticar o bem é o único credo confiável.  
















quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024



                                 o resto é resto





Insinua-se nas manhãs ensolaradas a inquieta alacridade

dos prazeres sem culpa.

A beleza passageira se renova, amorosa e transparente.

É como devia ser, nada de ódio nem insultos.

Olhares viciados em alucinações espiam as mesmices 

convencionais das praias sem nevascas.

O ar fresco rescende a descansos veludosos.

Luz e sombra não se confundem ao meio-dia.

Alegria, afetos, manhãs ensolaradas : sempre haverá

compensações para o desvario compulsório.

Quem canta seu subconsciente que aguente as consequências.

"O passado é lição para se meditar, e não para reproduzir", 

é o que nos convém.  

A turba não perdoa o que não entende.

Cresta-se a vida sem saudade de ter sido, o resto é resto. 

O eu que permanece comigo é o mesmo que dá testemunho

das manhãs adormecidas.

Sonhando com um mundo melhor em pleno dia. 







sexta-feira, 26 de janeiro de 2024



                            a fraude





A compreensão do mundo requer 

muito mais do que o simples conhecimento. 

Inteligência só não basta.

Futilidade e civilização se locupletam.

Malandragem vale mais que sabedoria, até os tolos sabem.

Os velhacos se reconhecem, os vícios viciam-se em sinecuras

sem sacrifício.

No mundo vasto e desfeito, compreender o básico 

desperta vaga-lumes interiores.


Pairam sobre nós 

estigmas susceptíveis aos embustes cotidianos.

Mentiras e traições tecem redes de pesadelos sem fim.

Aprendemos o que nos ensinam manietados por liturgias

e crenças fadadas ao desengano.

Através das coisas insondáveis, as secretas leis eternas

se cumprem.

A compreensão do mundo passa pela aceitação tácita  

das coisas que passam mas não passam.

O delicado tempo modela o duradouro e o perdido.

Para legitimar a grande fraude que nos legam.






sábado, 6 de janeiro de 2024




          dupla realidade





Há uma realidade paralela que nos passa despercebida.

Nela transitam os sentimentos alheios.

Feita das aleivosias que os outros, veladamente,

formulam sobre nós.

Forjando um outro eu que nem suspeitamos.

Do qual desdenha até quem mais amamos.


Pense, não se deixe enganar pela realidade aparente.

Pouco ou quase nada corresponde àquilo que aparenta.

O gesto amigo facilmente se reverte em hostilidade.

Os laços afetivos embutem armadilhas.

Geralmente se desfazem quando contrariados.

A realidade nada mais é que a projeção de nossas

crenças e expectativas.

No encontro de nós mesmos, o descobrimento

retardado pela força de ver é sempre adiado.

Não tarda que todas as batalhas sejam perdidas.

Sucumbem à realidade que não vemos, feita de mentiras, 

traições, maledicências. 


Nas experiências que se multiplicam, os desiludidos

seguem iludidos, os mal-amados seguem amando, 

até que o tempo depure as coisas.

E os olhos já não chorem quando o amor

resultar inútil.

Para renascer, quem sabe, numa vida 

sem mistificações.



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