terça-feira, 19 de julho de 2016

A INTENTONA TURCA E NÓS

A frustrada tentativa de golpe na Turquia encerra algumas lições importantes e de muita utilidade no momento delicado que nosso país atravessa. A mais evidente e emblemática é o inevitável trauma e custo social que esse tipo de intervenção normalmente acarreta, independentemente dos motivos e possíveis justificativas.
Obviamente, rupturas bruscas e violentas não transcorrem sem medidas de exceção e vítimas, tendo como primeiras e imediatas consequências a supressão de direitos democráticos, como a liberdade. É claro que as motivações que ensejaram a tentativa de golpe na Turquia diferem por completo das evocações nesse sentido que povoam o imaginário de boa parte de nossa sociedade, manifestadas
cada vez mais assiduamente nas redes sociais.

Enquanto lá os fatores étnicos e religiosos são preponderantes e recalcitrantes, aqui a insatisfação e o anseio por mudanças drásticas se avolumam por razões bem mais prosaicas, ou seja, a desilusão e ojeriza a governantes e a corrupção institucionalizada entranhada no país. Descontentamento que se acentua face à recorrência de dos delitos e a tradicional letargia da justiça, personificada pelo comprometimento político do STF, cuja postura reticente e ambígua dos ministros nomeados pelo governo petista, tem visivelmente refreado as ações daqueles agentes que assumiram o papel de combater o regime de ilicitudes introduzido pela governança petista, simbolizada pela operação Lava-Jato.
Tal lassidão, aliada ao ambiente promíscuo e permissivo reinante no Congresso, é o que alimenta a crença de que somente uma intervenção militar possa mudar esse quadro perverso. O fato de o golpe de 1964 ter sido desfechado a pretexto de impedir a conversão do país ao comunismo, ou mais exatamente, ao modelo cubano de socialismo, para muitos justificaria uma ação saneadora e depurativa de força maior, dada a degradação dos poderes constituidos. 
O dramático e sangrento desfecho da intentona turca mostra que o melhor caminho não é bem esse. Apesar de sedutora, uma intervenção militar seria um retrocesso impensável, provado como está que medidas de força e de exceção são meramente paliativas, sem falar na rejeição e injunções que o país sofreria da comunidade internacional.
Não obstante a gradual revisão que hoje em dia se faz do golpe militar de 64, cumpre lembrar o alto preço pago para a consolidação da democracia no país, cujos princípios devem ser coerentemente  preservados por meios pacíficos e civilizados.
Das Forças Armadas espera-se, isto sim, que garantam o cumprimento das leis e o funcionamento irrestrito dos orgãos competentes, ou seja, o Ministério Público e a Polícia Federal. Bem como se posicionar mais firmemente ante as tentativas de cerceamento e limitações ao trabalho desses efetivos braços de nossa leniente justiça, esboçadas em projetos de leis que visam proteger e ampliar prerrogativas como o foro privilegiado. Cujos mentores e autores, é claro, são os nomes que mais figuram nos casos de delitos apurados pela Lava-Jato.

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