quinta-feira, 27 de julho de 2017


Assim como uma infinidade de músicas e livros antológicos, não é raro que grandes filmes não sejam devidamente apreciados e valorizados no circuíto das artes. Caso do excelente Repórteres de Guerra, baseado em fatos vivenciados por quatro jovens repórteres fotográficos que antecederam o fim do apartheid na Africa do Sul. Dois dos quais - Greg Marinovich e Kevin Carter - acabaram ganhando o prêmio Pulitzer, por fotos chocantes que chamaram a atenção do mundo para o cenário de violência e miséria extremas, solenemente ignorado pelo mundo dito civilizado - e que na verdade não mudou muito de lá para cá.

A foto de Kevin Carter, em particular, em que capta uma criança esquálida e curvada sendo observada por um abutre, continua mais atual do que nunca, pairando como um verdadeiro monumento à hipocrisia e desfaçatez humana.

Tanto ontem como hoje, a omissão e o desprezo tem estado presente por trás da milenar saga de discórdia, ódio e beligerância da humanidade. Mesmo num contexto de virtual interação e integração global, proporcionado pela vertiginosa expansão dos meios de comunicação, o descaso e a hipocrisia continuam sendo a tônica nas relações entre os povos. E não só no que diz respeito aos povos mais primitivos e atrasados - mesmo nos países mais avançados as cisões internas continuam se acentuando. 

Inexoravelmente, ao que parece. Ao menos enquanto nos limitarmos a tão somente assistir passivamente os infortúnios e desgraças alheias. Muitas das quais se desenrolam diante de nossos olhos. De nada adiante apenas a solidariedade e compaixão silenciosa, ou apertar a tecla de curtir e compartilhar. 

Mais ou menos como fez Kevin ao dar como missão cumprida o simples registro da estarrecedora cena que lhe deu fama. E o drama de consciência que o levou ao suicídio.

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