sexta-feira, 18 de maio de 2018


                  paulada
                                  


"A verdade é uma só..."
Tive um amigo que adorava usar essa expressão, que me irritava profundamente. Acho que por isso vivia repetindo, só para me aporrinhar. 
- Como assim, a verdade é uma só se a verdade pode ter mil caras, se cada um tem a sua verdade - lembro de ter contestado algumas vezes, inutilmente, até me dar conta que era um dos tais vícios de linguagem que repetimos à moda dos papagaios.
Mas eis que hoje me vejo compelido a dar crédito a expressão do meu amigo, ante a constatação de que há de fato, verdades que soam como insofismável.
Como aquelas ditas (não todas, é claro) no calor da discussão, no auge da raiva, quando o vale-tudo verbal abrange tudo o que normalmente é varrido para debaixo do tapete, ou engolido à seco, às vezes anos a fio.
Algo que geralmente acontece em meio ou no fim dos relacionamentos litigiosos, quando de repente toda sorte de podres reais e imaginários vem à tona. Um troço tão triste e deprimente, em que a carga de mágoas e ressentimento é despejada de uma só vez, a ponto de a outra parte - e a própria relação em si, às vezes longeva - ser rebaixada ao nível mais baixo.
"A verdade é uma só " aí se encaixa perfeitamente no contexto em que a raiva desnuda aquilo que vinha sendo escamoteado e maquiado há anos, e cuja revelação assim de supetão, sem máscaras ou disfarces, representa uma das maiores pauladas que se pode receber na porra da vida.




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