segunda-feira, 22 de julho de 2019



                                   

                      ÁGUA OU PEDRA






Os anos trazem e levam tudo da gente.
A vida que floresce,  envelhece
e se despede das coisas.
Dos amigos que vêm e vão.
Dos amores que vêm e vão.

A cronologia da saga humana se dispersa em elegias
e catálogos defuntos.
Sempre há perdas e mortos à prantear.
Despedidas e luto são as únicas coisas permanentes.
A pátria saqueada, o povo espoliado, 
sempre a mesma história.
Reescrita e convenientemente deformada 
pelos donos do poder,
ou apologistas de doutrinas sanguinárias.

O mundo não se lava das guerras, 
não se limpa do sangue dos inocentes,
nem se livra do ódio e da discriminação.
Os tiranos se olham no espelho
e sentem prazer no que veem.

Ainda assim, a cada fim de tarde, 
os sons e vozes abafadas que adentram a noite eterna,
fecundam as entranhas da terra 
em seu recolhimento seminal.
Em infatigável resistência e desesperados atavios,
a desgraça e grandeza humana entrelaçados.
Nada se perde, tudo se transforma,
a lei máxima da Natureza se incumbe 
das transmutações feéricas e telúricas.
Na vida que se deteriora e se regenera.

Assim como a criança que não brinca não é criança,
o homem que não sofre, não se faz homem.
Só o sofrimento e a dor ensinam e redimem. 
Água ou pedra, fluir ou quedar-se.
Ser como um veleiro preso numa garrafa
Ou aventurar-se por mares quiméricos. 
Viver ou ver a vida passar, 
anódina e irredimível.













  









   






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