DICOTOMIA
Não espero que Deus tenha piedade de mim.
Pois teria que fazer por merecer.
Andar sozinho em meio a tantos escombros
me faz pensar, melhor seria
inventar uma maneira diferente de ser.
Que fosse o avesso de mim.
Alguém que não se exponha tanto.
Não escancare os defeitos.
Ou seja, fazer o contrário do que tenho feito.
Ser mais centrado, cauteloso.
Menos crédulo.
Mas, meu Deus, não sei ser de outro jeito.
Pensam que já não tentei ?
Depois de tantos percalços, frustrações ?
Pois à mim também desagrada ser assim.
Nunca ganhei nada crendo, dando a cara à tapa.
Basta ver onde estou.
Onde fui parar.
Mesmo querendo fazer o bem, sempre dá errado.
Porque sou tão atrapalhado ?
Não quero o mal de ninguém.
Nem de meus desafetos, pois a todos sobrevivi,
e aprendi muito com eles.
Talvez eu não me dê conta da dicotomia
entre a ideia que faço de mim
e o que eu realmente sou.
Não há razão para esperar mais nada.
Ser o que não sou.
É tarde para renegar o que eu sou.
Não espero que Deus tenha piedade de mim.
Pois de tanto crer, já não sei em quem creio.
Nem quem sou.
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