terça-feira, 10 de setembro de 2019

  

          conto do vigário 




Não há salvo-conduto na porra da vida. 
Não há colher de chá, moleza, 
almoço grátis 
qualquer garantia de retribuição.  
No estridor das boas intenções, 
nada é certo, nada é garantido.
A não ser puxadas de tapete, 
bola nas costas. 
E de quem menos se espera.

Fazer as coisas direito, 
não depende só de nós. 
O que é certo para mim, 
não é suficiente para quem só vê o seu lado, 
o que lhe convém.
Para quem se acha credor, merecedor, 
sem fazer jus,
sem comparecer com a mínima contra-partida.

Ora, a vida é uma via de duas mãos, 
escambo, um toma-lá-dá-cá. 
Há que haver reciprocidade.
Ou alguém toma no cu.
Ninguém é trouxa para sempre.
Mesmo quando se ama, há um limite para tudo.
Porque as pessoas acabam abusando.
Confundem bondade com tibieza.
Chantageiam, exploram a boa fé,
o sentimento de culpa alheio.

O amor fragiliza,  
nos torna reféns de sentimentos 
nem sempre correspondidos, sinceros.
No entanto, amamos. Acreditamos.
Pagamos para ver.
Pois o coração assim o pede.
Assim o exige.
Se contenta com pouco.
Apanha, sofre, mas não desiste.
Chega a ser de uma burrice atroz.
Quando se deixa enganar, manipular.
Quando não vê que o amor,
em suas diversas versões,
é o maior conto do vigário que há.


































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