domingo, 26 de janeiro de 2020
VERME
Saber-se preterido,
reduzido à vagos desejos,
pequenos prazeres,
pesarosas saudades,
existindo sem existir,
pairando feito sombra de uma árvore
esquálida e estéril.
Saber-se nem herói, nem vilão,
nem algoz, nem vítima,
apenas impotente
para mudar a natureza das coisas.
Querendo mas não podendo.
Nadando contra a maré,
a espera de um milagre.
Saber-se insignificante,
mero espectador,
simples provedor,
às vezes nem isso,
alguém que deixou de ser,
de fazer falta,
vivendo de nunca ir além
de sonhos já sonhados.
Saber-se às portas da senilidade,
sem perspectivas,
entre flores e cruzes deambulando,
sem nenhum amigo, nenhum irmão,
apenas solidão,
resignado ante o espetáculo banal que se extingue.
Saber-se incapaz de sorrir
como antes,
incapaz de confiar,
vivendo de aparências,
consumido pelas ausências,
à morte da verdade,
a espera do que já não tem perdão.
Saber-se um verme,
que da vida furta o que o sustenta.
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