sábado, 1 de fevereiro de 2020
dar a volta por cima
Há quem diga, a meu desdouro,
que sou devasso.
Que não sou fiel e que gosto de putas.
Seria trágico, se não fosse cômico,
levar à sério tal disparate nos dias de hoje.
Em que o conceito de devassidão e putaria
nunca foi tão elástico.
Ora, não sou santo, nem demônio.
Não sou diferente da grande maioria.
De mais a mais, quem me difama,
tem muito mais a esconder do que eu.
É só uma questão de tempo para tudo
vir à tona.
De certa forma, sou um livro aberto.
Tive minha vida vasculhada de cabo à rabo.
Me vigiaram, me hackearam,
e nada encontraram além do que nunca
foi segredo.
Que gosto de mulher.
Que gosto de sexo.
E hoje em dia, o que eu faço ou deixo de fazer,
não é da conta de ninguém.
A vida segue.
E o que há de tão bom que não tenha lá suas ciladas ?
Cada um cava o seu próprio descaminho.
Uns se ufanam daquilo que não são.
Outros são defenestrados pelo que assumem que são.
Quem é melhor ? Quem é pior ?
No vasto mundo, ninguém está apto a julgar
ninguém.
A atirar a primeira pedra.
O quê, no fim das contas, nos consome
é exatamente o amor
que agoniza face às carências exauridas.
Na procura constante das fantasias
descoladas de seu tempo,
o fragilizado amor cedo ou tarde sucumbe.
Por qualquer motivo, sob qualquer pretexto,
o que era sublime em maldição se transforma.
No fim de tudo, curar-se do mal,
sem ceder à maldade,
é só o que nos permite dar a volta por cima.
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