domingo, 23 de fevereiro de 2020




             
        




Nenhum vício, o máximo que se permite é um bom vinho de vez em quando. Extremamente disciplinado, leva à risca a rotina de trabalho, estudo e cuidados pessoais. Trabalha de despachante aduaneiro na firma do pai, mas faz questão de não ter regalias. Chega sempre cedo e não tem horário para sair. À noite, cursa o último ano da faculdade de Tecnologia da Informática. Não é bem o que sonhava fazer, mas entende que o futuro estará cada vez mais dependente do mundo do computador.
Está com 24 anos, em plena forma, vai à academia no mínimo três vezes por semana, é extremamente vaidoso, gosta de creminhos, traz os cabelos longos presos num rabo de cavalo. É católico não praticante, acredita em Deus mas religião e política  são assuntos que prefere  manter-se afastado. É filho único de pais separados, se dá bem com os dois mas optou por morar sozinho. Foi a maneira prática que achou para assumir sua homo-sexualidade.
Teve que fazer dois anos de terapia, mas hoje está de boa, não se vê dentro de nenhum desses rótulos que só servem para estigmatizar as pessoas. Namora um rapaz um pouco mais velho, sempre mantendo a discrição, pois sabe que apesar dos avanços nessa área, o preconceito está arraigado nas pessoas. Mesmo em relação aos pais, sente que
a aceitação é muito mais para não magoa-lo do que propriamente
natural. Bem apessoado, as moças o paqueram desinibidamente, há alguns anos chegou a namorar uma antiga amiga, não deu certo mas se tornaram ainda mais amigos.
Sabe que terá um caminho difícil pela frente, mas se considera privilegiado por desfrutar de condições materiais e intelectuais para lidar com sua condição de gay. Descrente da instituição da família como garantidora de bem estar e de felicidade, não faz planos para o futuro. Assume seu niilismo sem amargura. Há quem o ache um tanto cínico, mas não liga. Aliás, há poucas coisas que dá importância. Considera a auto-suficiência fundamental dentro do modelo de vida que escolheu. Sem alimentar grandes expectativas, sem esperar nada de ninguém.  








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