terça-feira, 24 de março de 2020
degredo
Eu não seria eu
se não dissesse o que penso.
Se não me expusesse,
não desse a cara à tapa.
Eu não seria eu
se não pagasse de otário
sabendo disso,
e não se importasse,
apegado a crenças tolas,
crendo em lorotas,
em suma,
o autêntico idiota.
Eu não seria eu
se não me desse conta
de todas as besteiras que já fiz.
Se não passasse um dia sequer
sem me lembrar
sem me recriminar
pelos furos que deixei.
Pelas tantas vezes que
meus entes queridos decepcionei.
Aqueles aos quais vergonhosamente traí.
Não, eu não seria eu
se não tivesse consciência de tudo.
E por isso mesmo, tentasse me penitenciar.
E ainda assim, me sentindo
sempre devedor.
Sabedor que de nada sou merecedor,
além da indiferença, do desprezo,
do degredo que ora experimento.
E no qual finalmente
encontro paz.
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