sexta-feira, 20 de agosto de 2021




                           Influxos





É preciso coragem para viver.

A vertiginosa pululação do dramatis personae

se embacia de fastio. 

No ar, o voo pesado de abutres gordos paira como

metáfora recorrente.

Líquido e certo que um dia a catástrofe sobrevêm.

Os demiurgos amassam as premonições, enquanto

o crepúsculo esculpe estátuas.

Noite após noite, o homem se refaz sonhando-se adormecido.

Compreende que o engenho de modelar a matéria requer

velhos olhos.

Esgotados os votos aos numes terrestres, desperta da intolerável

lucidez da insônia.

Implora por desconhecido socorro.

Um múltiplo deus se revela e preconiza que uma vez

cumprido os ritos da dor,  gradualmente, 

habituar-se-à a realidade dos heresiarcas e dos crucificados. 

E vai cuspir seus surdos apelos,

como se embandeirasse um cume longínquo.

Não menos vil, porém, escudado por gnósticas cosmogonias,

descobre que a bem-aventurança (assim como o bem)

é um atributo que não deve ser usurpado por anátemas

sem provas.

Em conjecturas que se esgotam no ditame de leis

labirínticas, atreladas ao acaso.

Sob o influxo de deuses degenerados.




 

 

 

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