Influxos
É preciso coragem para viver.
A vertiginosa pululação do dramatis personae
se embacia de fastio.
No ar, o voo pesado de abutres gordos paira como
metáfora recorrente.
Líquido e certo que um dia a catástrofe sobrevêm.
Os demiurgos amassam as premonições, enquanto
o crepúsculo esculpe estátuas.
Noite após noite, o homem se refaz sonhando-se adormecido.
Compreende que o engenho de modelar a matéria requer
velhos olhos.
Esgotados os votos aos numes terrestres, desperta da intolerável
lucidez da insônia.
Implora por desconhecido socorro.
Um múltiplo deus se revela e preconiza que uma vez
cumprido os ritos da dor, gradualmente,
habituar-se-à a realidade dos heresiarcas e dos crucificados.
E vai cuspir seus surdos apelos,
como se embandeirasse um cume longínquo.
Não menos vil, porém, escudado por gnósticas cosmogonias,
descobre que a bem-aventurança (assim como o bem)
é um atributo que não deve ser usurpado por anátemas
sem provas.
Em conjecturas que se esgotam no ditame de leis
labirínticas, atreladas ao acaso.
Sob o influxo de deuses degenerados.
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