domingo, 28 de agosto de 2022


                  amor caricato





Assim eu te amo.

Intensamente, no ato.

Vagamente, se for o caso.

Pois nem sei quem és, de fato.

Sabe Deus no que vai dar 

esse amor caricato.


Amo-te, todavia. 

Como uma gaivota que se desprende 

ao acaso.

Como a brisa que se intromete 

na tarde vagarosa.

És como a luz fosforescente nas águas dançantes.

A trovoada que ressoa distante, e seu vago 

clarão itinerante.


Amo-te sem esperança.

Abandonado como uma velha âncora.

Celebrando a vida com tua esporádica presença.

Campanário de lamentos e pensamentos sombrios

quando te ausentas.


És minha e não és.

Caçadora de meus sonhos solitários.

De dia matas minha sede.

À noite emigras para uma vida que desconheço,

em que desvanece o desejo de tê-la para sempre.


"Ah, é tão curto o amor, tão demorado o olvido" (Neruda).




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