declaração de princípios
( à moda Manuel de Barros )
1. Declaro, para os devidos fins de deveres e direitos, não
me sentir credor nem devedor de nada que não seja gratuito,
espontâneo, incondicional.
2. De nada que não possa ser compartilhado, que não tenha
poros, raízes, penas, entranhas, coração.
3. De nada que não implique em sentimentos corrompidos,
líquenes, pélagos, nojos, limbos, de resto, o adubo da vida.
4. De nada que não seja decadente, sujo, assombrado, despojado,
que é onde se encontra a sabedoria da indigência.
5. De nada que não tenha reentrâncias, gretas, rachaduras,
reveladores de arcanos mentais.
6. De nada que não possa ser visto, apalpado, cheirado, degustado,
por motivos óbvios.
7. De nada que não seja habitado por pedras, mendigos, bichos,
que não precisam ser ninguém na vida.
8. De nada que não esteja aberto aos desentendimentos.
9. De nada que não possa habitar seus próprios desvãos.
10. De nada que não possa dar concretude à solidão.
11. De nada que não tenha propensão à escória, que não seja
sazonal, que não possa dar testemunho das obras de Deus.
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